Em Sergipe, 18% das crianças estão com sobrepeso; saiba como tratar | F5 News - Sergipe Atualizado

Em Sergipe, 18% das crianças estão com sobrepeso; saiba como tratar
Nutricionista explica quais são benefícios de uma alimentação saudável na infância
Cotidiano | Por Laís de Melo 26/08/2021 11h41


No Brasil, 14,5% das crianças com idade de 0 a 9 anos estão com excesso de peso. O percentual representa um total de 6 milhões de crianças com a soma de sobrepeso e obesidade. Os dados são do Ministério da Saúde, coletados por meio de atendimentos infantis realizados nas Unidades Básicas de Saúde, e chamou atenção da pasta, que lançou a Campanha Nacional de Prevenção à Obesidade Infantil. 

Em Sergipe, o excesso de peso atinge 18,4% das crianças, sendo a faixa etária com os maiores percentuais a de 0 a 2 anos, com 28% de casos. O sobrepeso atinge ainda 18,6% das crianças entre 2 a 4 anos em Sergipe, e 14,6% das crianças na faixa entre 5 a 9 anos. 

De acordo com a nutricionista Bruna Nabuco, os números refletem o crescimento alarmante da obesidade infantil não só no Brasil, mas no mundo. Segundo a profissional, países em desenvolvimento possuem quatro vezes mais crianças com sobrepeso ou obesidade, quando comparados aos países desenvolvidos. 

“Infelizmente essa realidade se tornou ainda pior com a pandemia da Covid-19. O isolamento social contribuiu para o aumento do sedentarismo e para piora dos hábitos alimentares, dois grandes fatores para o crescimento da obesidade”, destaca a nutricionista. 

A especialista conta que tem percebido uma grande procura de pais por acompanhamento nutricional das crianças, decorrente do ganho de peso excessivo que apresentaram durante a pandemia. 

“Os pais procuram ajuda assustados com a rápida mudança corporal das crianças, e em alguns casos o problema não se restringe apenas ao excesso de peso, como também a complicações associadas como alteração no perfil lipídico, quadros de resistência insulínica ou até mesmo diabetes. Por isso, devemos encarar a obesidade infantil como um problema de saúde pública que necessita do envolvimento de todas as esferas do governo e também da população em geral visando a promoção de uma alimentação e estilo de vida mais saudável”, afirma Bruna Nabuco. 

Riscos 

Ainda conforme a nutricionista, a obesidade infantil traz riscos para a saúde da criança a curto e longo prazo, já que pode acarretar em alterações sistêmicas que levam ao comprometimento de todo o organismo, podendo assim desenvolver problemas ortopédicos, endócrinos, hepáticos, cardiovasculares ou até mesmo doenças crônicas, como diabetes e hipertensão. 

“É importante ressaltar que alguns estudos apontam que uma criança obesa tem 80% de chance de se tornar um adulto obeso, demonstrando que o comprometimento da saúde persiste na vida adulta. Os riscos da obesidade infantil envolvem também riscos emocional e psicológico, uma vez que essas crianças são mais susceptíveis a sofrerem qualquer tipo de exclusão social, discriminação ou ‘bullying’ presente frequentemente nas escolas. Esses são fatores que podem levar a uma baixa autoestima e até mesmo depressão”, afirma Nabuco. 

Além disso, crianças obesas têm maior risco de desenvolverem distúrbio do comportamento alimentar, como casos de compulsão alimentar ou de distorção da imagem corporal, na adolescência ou na vida adulta. 

De acordo com a pediatra Ana Jovina Barreto, há também um impacto negativo na resposta imunológica dos pacientes obesos na infância. “Essas comorbidades na infância aumentam consideravelmente o risco prematuro de doença cardiovascular na vida adulta. O excesso de peso na infância promove um maior risco de lesões ortopédicas, principalmente em membros inferiores, problemas dermatológicos e apneia obstrutiva do sono. Sem contar os problemas psicológicos, como depressão e ansiedade decorrentes dos estigmas associados à obesidade”, disse a médica ao F5News

E continua: “De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, crianças e adolescentes obesos podem ter o seu crescimento linear e sua idade óssea acelerados. Algumas evidências também sugerem relação entre obesidade e puberdade precoce. Meninas obesas habitualmente têm a menarca antes dos 10 anos de idade”. 

A situação pode ser ainda pior em crianças em situação de vulnerabilidade social, o que representa boa parte das brasileiras. Nesses casos, a principal dificuldade é o acesso a uma alimentação adequada e saudável. Na maioria das vezes, as crianças em situação de vulnerabilidade social têm maior consumo de alimentos ultraprocessados, por falta de condição financeira ou social. 

“Além disso, essas crianças estão mais expostas a inatividade física, seja por falta de tempo e espaço, ou por falta de segurança pública em espaços destinados para essa finalidade. Soma-se a falta de políticas públicas efetivas que promovam uma educação alimentar e nutricional nos ambientes sociais, como as escolas. Portanto, essas crianças têm um maior risco de sofrerem com as consequências da obesidade de forma cada vez mais precoce e se não tiverem assistência a saúde de forma adequada, aumentam as chances de serem adultos com problemas de saúde crônicos”, reitera a nutricionista Bruna Nabuco. 

O que fazer para melhorar a alimentação das crianças?

Segundo a nutricionista Bruna Nabuco, em muitos casos os pais ou cuidadores não enxergam o problema da obesidade nas crianças, ou não reconhecem que os filhos se alimentam mal. Portanto, o primeiro passo para reverter a situação é assumir que o problema existe antes mesmo de atingir um estágio mais crítico. 

Outro ponto importante é que os responsáveis adultos tenham uma alimentação saudável, para dar bom exemplo e garantir um ambiente nutricional favorável para a criança. “Um ponto chave para isso é a organização da família para comprar e ter em casa alimentos mais naturais possíveis, evitando assim o consumo de alimentos industrializados, ricos geralmente em açúcares, gorduras e sal”, destaca Bruna Nabuco. 

Evitar o acesso das crianças a propagandas que incentivam o consumo de alimentos industrializados também é um passo para a melhora da alimentação. “Muitas vezes as crianças são persuadidas a consumir esses produtos por um forte apelo e acabam convencendo os pais a terem acesso frequente a esses alimentos. Limitar o acesso a esse tipo de publicidade contribui para que essas crianças não tenham essa influência nas suas escolhas alimentares”, disse a nutricionista. 

Qual é a alimentação ideal para manter a criança saudável?

Bruna Nabuco reforça que uma alimentação saudável é aquela à base de alimentos in natura ou minimamente processados, sem que tenha que, necessariamente, excluir certos alimentos ou ter uma dieta restritiva, o que pode acabar dificultando ainda mais as crianças desenvolverem hábitos alimentares realmente saudáveis. 

“Precisamos ter em mente que uma criança está em fase de desenvolvimento e formando seu hábito alimentar, então fazer dietas restritivas ou excluir alimentos da sua rotina pode afetar o seu crescimento e contribuir para formação de hábitos alimentares não saudáveis. O segredo para ter uma alimentação saudável é ensinar para as crianças através da educação alimentar e nutricional a terem equilíbrio nas suas escolhas alimentares e que os alimentos saudáveis também são gostosos, saborosos e divertidos”, conclui Bruna Nabuco. 

Edição de texto: Monica Pinto
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