Do caos à excelência: relembre a trajetória que salvou o Hospital de Cirurgia
Inaugurações nesta quinta atestam que o HC recupera seu papel social e seu prestígio Cotidiano | Por Monica Pinto 14/11/2024 12h00As inaugurações que o Hospital de Cirurgia, em Aracaju, efetivou na manhã desta quinta-feira (14) atestam que lá se implantou uma realidade operacional e administrativa a, definitivamente, deixar para trás a sucessão de desmandos que quase levou à ruína a maior casa de saúde voltada aos pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) em Sergipe. Os atendimentos contemplam em parte moradores de regiões de Bahia e Alagoas.
Foi entregue à população sergipana o novo Centro de Infusão e Atendimento Oncológico e reinaugurada a Unidade de Internamento conhecida como Ala F, com 22 leitos, que passa a ser chamada de Dr. José Augusto Santos da Silva, em homenagem ao cirurgião bucomaxilofacial e conselheiro da fundação mantenedora do hospital falecido em 2 de setembro deste ano
O risco de fechamento
Em entrevista ao F5 News em julho passado, a interventora judicial do Hospital de Cirurgia, enfermeira Márcia Guimarães, expôs em detalhes a situação insustentável da casa, cenário que levou o Ministério Público de Sergipe a tomar providências em 2018, na busca por salvar a instituição.
“Na época, a oncologia estava parada; 123 dias de aparelho de radioterapia parado desde maio - era um aparelho da década de 70 -; a quimioterapia também estava parada, então culminou com isso tudo: cirurgia cardíaca parada, oncologia parada, neurocirurgia parada e urologia também paralisando”, lembrou Márcia Guimarães ao F5 News. “O hospital estava há três anos sem licença sanitária para funcionar”, disse ainda a enfermeira natural do município sergipano de Aquidabã.
Voltas por cimaNo final de setembro passado, a ampla reestruturação pela qual passou o Cirurgia desde a intervenção judicial foi consolidada pela recepção, em ato solene, da certificação de acreditado nível 1 – que atesta a qualidade dos serviços de saúde prestados no hospital –, feita pela Organização Nacional de Acreditação (ONA).
Em termos práticos, o primeiro hospital filantrópico de Sergipe a conquistar a acreditação significa que ele atende às normas da principal certificadora da qualidade dos serviços de saúde do Brasil. No país, dos 7.309 hospitais existentes, somente 6% (439 unidades) têm alguma certificação, seja da ONA ou de outras entidades certificadoras, conforme aponta a Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS).
Os esforços da atual gestão, com o apoio financeiro decisivo de parlamentares de Sergipe, instituições parceiras e Governo do Estado, resultaram na retomada das cirurgias oncológicas na regularização do serviço de quimioterapia e, em janeiro de 2022, foi reinaugurado de forma solene o Serviço de Radioterapia, no térreo do prédio da Unacon do Cirurgia, disponibilizando inclusive um novo e moderno acelerador linear. A obra do prédio gerou grande expectativa, ainda mais porque estava parada há anos, e é encarada como um divisor de águas para o tratamento oncológico dos pacientes SUS em Sergipe.
A preparação para o futuro
Todos esses investimentos em estrutura e modernização do tratamento oncológico se coadunam aos prognósticos já preocupantes de aumento no número de casos de câncer. Segundo a interventora Márcia Guimarães contou ao F5 News no decorrer de sua entrevista, em uma reunião de Unacons e Cacons [Unidades e Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia] que ocorreu em 2022 no Congresso Nacional no bojo da Frente Parlamentar de Oncologia, foi colocado que, de seis a dez anos, iria triplicar o número de pessoas com câncer no Brasil.
“Essa questão de virem mais e mais pacientes acontece e vai acontecer mais”, constatou a gestora, que se preparou para um cenário de saúde pública no qual o tratamento eficaz, preciso e humanizado não raro faz a diferença entre a vida e a morte.