Em meio à pandemia do Novo Coronavírus (Covid-19), o isolamento social foi adotado para conter o avanço da doença. Ao mesmo tempo, ele tem gerado certos desconfortos entre algumas pessoas que viram sua rotina mudar completamente, tendo que ficar em casa. E neste cenário é onde mora o perigo do descontrole alimentar motivado, dentre outras coisas, pelo estresse e ansiedade provocados pelo isolamento.

Toda essa situação pode levar alguém à vontade de comer mais do que o normal, principalmente alimentos mais gordurosos. Aquele hambúrguer ou aquela pizza, entregue em casa, e aquele chocolate que parece acalmar e aliviar o estresse.

A nutricionista Priscila Ribeiro (foto) explica que a ansiedade e o estresse podem ocasionar a busca pelo alimento como forma de conforto, alívio e/ou fuga para o contexto atual. No entanto, lembra que em muitas vezes essa relação com a comida já era desequilibrada e agora está sendo evidenciado. "Identificar essa situação e buscar ferramentas para lidar com a mesma é fundamental", afirma.

Entre os perigos do comer em excesso e principalmente escolher alimentos com teor de gordura e açúcar, está o aumento de peso. "Inclusive a obesidade um fator de risco para a Covid-19. O aumento do peso aumenta a inflamação no corpo e esse quadro favorece também as doenças crônicas como, por exemplo, diabetes e cardiovasculares", explica a nutricionista, além de gerar frustração no indivíduo e a médio ou longo prazos pode desencadear transtornos alimentares.

Esse momento imposto pela pandemia alterou  rotina de trabalho, a convivência social, mas também tem gerado um reflexo significativo na alimentação da população. E não são raros os relatos de pessoas que não estão conseguindo seguir a dieta e até quem não tinha um cronograma bem definido de refeições sente que tem estado mais propício ao descontrole alimentar.

Foi o caso da auxiliar administrativa Katiane Mendonça. Com as mudanças em seu horário de expediente no trabalho e a impossibilidade de praticar algumas atividades físicas, a sergipana acabou deixando os cuidados na hora de comer um pouco de lado. “Sou atleta de alto rendimento e tenho uma alimentação regrada e saudável, com isso, eu sofro, pois sou obrigada a comer de uma forma com a qual não estou acostumada. Isso me desestimula e me cansa, me deixando sem ânimo para atividades até mesmo em casa”, afirmou Katiane, que é corredora de rua e atleta de crossfit.

E neste caminho oposto ao que os especialistas indicam ser o saudável, a pessoa também deixa de incluir os nutrientes necessários, como indica a nutricionista. "Observa-se a redução da produção da serotonina (hormônio do prazer) acarretando um ciclo vicioso com aumento da ansiedade e a ausência dos micronutrientes indispensáveis para as células funcionarem de maneira orgânica e saudável. Um corpo nutrido e saudável gera um ambiente de promoção de saúde e aumenta a imunidade para enfrentarmos esse momento de risco de contaminação", avalia Priscila Ribeiro.

Como controlar?

A nutricionista reforça a importância do equilíbrio entre o que é consumido e o que é gasto, e por isso, o exercício físico é uma ferramenta para o controle dessa balança e deve ser estimulado no ambiente interno das casas para aliviar o estresse e queimar as calorias indesejadas. Os exercícios podem ser encontrados em ferramentas como aplicativos e vídeos de profissionais especializados e assessoria de personal on-line.

"Importante adequar e respeitar sua condição física para não sobrecarregar seu corpo e agravar sua saúde nesse momento. Respeitando sua individualidade o exercício físico, além de ajudar na questão corporal, também favorece a produção de citocinas e hormônios para promover o bem estar e controle das emoções", ressalta Ribeiro.

Evitar comprar os alimentos que causam esse descontrole é outra dica. A nutricionista também sugere: tenha uma rotina com horários das refeições, realize as refeições com calma, descanse os talheres a cada garfada, mastigue bem os alimentos. E no momento das refeições, evitar o contato com os eletrônicos, já que esse é o tempo para dedicar sua atenção plena a sua alimentação.

"Procure saborear os alimentos identificando as cores, sabores, aromas e texturas. Aproveite esse tempo em casa para preparar suas refeições, aprender receitas novas, comer saudável é delicioso! Existem diversas ferramentas para aprender, como e-books de receitas, vídeos gratuitos no YouTube, rede sociais como o Instagram. É importante buscar as informações de uma fonte com respaldo profissional", orienta.

Com relação aos tipos de alimentos importantes e indispensáveis tanto nesse período de quarentena, como em qualquer momento, deve-se focar, segundo a nutricionista, numa alimentação variada, equilibrada e nutritiva. "Inclua as frutas, verduras, grãos integrais, chás... Reduza o consumo de produtos industrializados ricos em sal, açúcar e/ou gordura. Comece com um café da manhã nutritivo, as demais refeições geralmente acompanham o ritmo inicial", aponta ela.

Segundo Priscila Ribeiro, é possível comer aquele doce ou prato desejado, a questão é a frequência e a quantidade. "Errou, falhou? Recomece! Hábitos não são formados em um dia ou momento, mas com a repetição dessas escolhas ao longo do tempo", afirma.

Existem ainda ferramentas que podem ajudar como ter um cardápio semanal para as refeições, além de ter um diário para relatar a relação do alimento com suas emoções. "Expresse como você se sente após cada refeição. Essas atividades podem ser inclusive feitas no próprio celular em um bloco de notas. Importante é ser viável para você", conclui.