Pessoas com deficiência ocupam apenas 0,75% das vagas no ensino superior em SE | F5 News - Sergipe Atualizado

Pessoas com deficiência ocupam apenas 0,75% das vagas no ensino superior em SE
Lacuna entre direito à educação e acesso efetivo a ela ainda é um desafio no estado
Cotidiano | Por Will Rodriguez e Fernanda Araujo 05/01/2021 06h30 - Atualizado em 05/01/2021 10h51


Estudantes com deficiência representam menos de 1% dos matriculados em faculdades públicas e particulares de Sergipe. É o que aponta levantamento da plataforma Quero Bolsa, feito a pedido do F5 News. O dado, que se assemelha aos de boa parte dos demais estados brasileiros, revela a lacuna que ainda existe entre o direito e o acesso à educação para essa parcela da população. 

O estudo se baseou em dados do Censo da Educação Superior 2019, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Dos mais de 82.378 sergipanos matriculados em algum curso de graduação, apenas 620 tinham alguma deficiência, o que corresponde a 0,75% dos estudantes.

Graduada em uma universidade particular na capital sergipana desde 2019, a psicóloga Gabrielle de Meneses Ramos perdeu a visão aos 15 anos e entrou na universidade quatro anos depois, através da nota do Enem. 

Como em toda rotina para uma pessoa com deficiência é necessário adaptações, o mesmo acontece numa sala de aula. Para quem tem deficiência visual, por exemplo, são vários os processos que o aluno passa para sua inclusão. 

“Na sala eu gravava as aulas, o que era escrito no quadro eu entregava a algum colega uma folha carbono junto com folha de ofício e o que ele escrevia saía para mim o conteúdo. Os materiais, além de serem postados na plataforma digital da faculdade – a plataforma do aluno – também eram enviados para o meu e-mail”, relata Gabrielle.

Ela conta que a escolha pela instituição se deu por questão de locomoção, já que é perto de sua casa. “Eu ainda me sentia muito insegura em questão de autonomia e, por isso, eu escolhi ir para uma universidade particular e que fosse perto da minha residência”, afirma.

Para ingressar no curso, Gabrielle lembra que não teve dificuldades, pois ela já seguia com a rotina de estudos, o que possibilitou uma boa nota no Enem e escolher a faculdade que desejava. “Logo no início tive uma conversa com a psicóloga de lá para explicar meu método de estudo, as minhas adaptações”, diz a jovem de 25 anos.

Diferente de muitos outros estudantes com deficiências que encontram obstáculos dentro das universidades, Gabrielle teve uma passagem positiva em termos de acessibilidade, segundo ela. Na instituição existe piso tátil e adaptações durante as aulas. “Tem toda uma estrutura e também em questão educacional, ao entrar na faculdade. E tem um grupo de apoio para pessoas com deficiência onde são conversadas questões de prova, adaptações em sala de aula, para todos os alunos. Tem uma equipe que todo início de período vinha conversar com a gente para saber quais as disciplinas, como está a rotina de estudo, quais as adaptações, o que deu certo ou que não deu”, disse a jovem ao F5 News.

Gabrielle também explica que as provas para ela eram adaptadas, sendo feitas de forma oral, porém com o mesmo conteúdo das dos colegas. “A depender das questões, se fossem questões com imagens, aí sim havia algumas alterações. Mas tinha essa adaptação da prova”, diz.

No entanto, a estudante também passou por entraves na sua rotina universitária. A jovem considera que teve dificuldades como qualquer outro aluno, diante da grande quantidade de conteúdos para assimilar, a extensa rotina de disciplinas e de estudo, atividades de estágio e produção de textos acadêmicos, “não ia ser diferente comigo”, diz ela. Mas também lembra que enfrentou um pouco de dificuldade em relação a textos que eram distribuídos em sala de forma impressa. 

“A maioria dos textos eram de forma digitais, então eu conseguia ter acesso à leitura, mas teve alguns impressos e que eram textos que a gente não encontrava na internet, mas que os professores por alguma razão tinham de forma impressa. Então, eu junto com outros alunos tirávamos xerox, mas dependia de alguém para ler para mim, essa foi uma das dificuldades, mas isso não ocorreu durante o período inteiro, foi algumas vezes”, conta Gabrielle.  

“A maioria do tempo no curso eu tive materiais digitais enviados para o meu email, slides, textos, livros, além das gravações. Eu tive uma equipe maravilhosa de professores que sempre estava ali junto, sempre mandando os materiais necessários, perguntando se precisava de alguma adaptação, fazendo novas adaptações, a própria faculdade fazia palestras voltadas para acessibilidade”, completa.

O caminho da inclusão

Na avaliação da professora Rita de Cácia Santos Souza, do Departamento de Educação da Universidade Federal de Sergipe (UFS),  o acesso da pessoa com deficiência ao ensino superior tem crescido, tanto nas faculdades particulares quanto nas instituições federais. Mas, para a pós-doutora, ainda há questões a serem redimensionadas a partir da construção do que ela define como cultura inclusiva. 

“Todas (as instituições de ensino) estão buscando criar possibilidades de melhor atenção e formação dos alunos, mas os alunos queixam-se ainda de alguns professores despreparados, assim como professores se queixam de que alguns alunos estão mal acostumados a receber tudo pronto, e é verdade. Tanto alguns dos professores precisam se tornar mais abertos à diversidade e aprofundar seus conhecimentos, como alguns alunos com deficiência precisam enfrentar melhor os desafios do ensino superior com menos dependência”, aponta a professora, que leciona disciplinas como Cultura Inclusiva, Educação Inclusiva e Libras.

Segundo Rita de Cácia, é preciso fazer um incremento dos investimentos profissional e econômico visando assegurar que os alunos com deficiência tenham uma boa educação básica, como também mais esclarecimento sobre o processo educacional, seus direitos e responsabilidades. 

“Nesse sentido, ressalto a importância da Educação Infantil e da alfabetização; quando o aluno é bem alfabetizado, as possibilidades aumentam significativamente suas oportunidades nos estudos e profissionalmente. Sugiro sempre que em turmas de alfabetização sejam colocados professores mais preparados e menor número de alunos, pois ali a demanda é intensa e os professores precisam de tempo para alfabetizar”, diz ela. 

Além de enxergar o sistema de cotas como um avanço no sentido de enfrentamento das desigualdades, a professora também considera que a formação dos professores sob  a perspectiva da inclusão tem sido aperfeiçoada. A respeito das cotas, Rita de Cácia considera ser necessário que os critérios fiquem mais claros para não serem mal interpretados e que as pessoas beneficiadas pelas cotas sejam melhor acompanhadas. 

“Como costumo dizer, estamos ‘anos luz’ de onde deveríamos estar, mas também estamos ‘anos luz’ de onde estivemos.  Ainda temos um caminho desafiante a trilhar", conclui.

Edição de texto: Monica Pinto
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