“Eu sei em Sergipe quem é ladrão e quem não é. Mendonça não é” | Joedson Telles | F5 News - Sergipe Atualizado

“Eu sei em Sergipe quem é ladrão e quem não é. Mendonça não é”
Blogs e Colunas | Joedson Telles 01/01/2018 19h46

O crescimento do pré-candidato ao Governo do Estado pelo DEM, o ex-deputado federal Mendonça Prado, pode até surpreender desinformados, mas não provoca o mesmo espanto no também ex-deputado João Fontes, pré-candidato ao Senado Federal numa aliança com Mendonça. Nesta entrevista, João Fontes assegura que, entre os pré-candidatos, Mendonça é o quadro mais preparado de Sergipe. “Muitos iam para Brasília passear, e Mendonça ia para estudar. Ele é muito preparado. É até esquisito porque é um homem de pouca relação social. Ele gosta das coisas simples e tem uma virtude rara na política de hoje: é decente. Mendonça não fez patrimônio na política. Eu sei em Sergipe quem é ladrão e quem não é. Mendonça não é”, diz, revelando ainda que escutou do próprio governador Jackson Barreto (MDB) que ele recebeu o Estado quebrado do saudoso Marcelo Déda. "Ele desabafou. Disse-me que não podia negar que sabia, desde quando era candidato, que o Estado estava quebrado - e foi candidato empurrado por vários amigos". A entrevista:

Agora é consolidar esse projeto João Fontes/Mendonça Prado?

Eu estava afastado da política e com um propósito muito firme com a minha família. Recebi o convite de vários partidos para voltar à vida pública partidária - e isso já há muito tempo. Resolvi voltar para política, aceitar o convite de Mendonça e ser pré-candidato ao Senado, abraçando a pré-candidatura dele porque eu conheço a política de Sergipe. Conheço a história política de Sergipe. Eu fui deputado federal com Mendonça. Da geração nova que está na política, eu não tenho a menor dúvida, e não é porque estava aliado, porque quando deixei de ser deputado federal votei em Mendonça. Mendonça é o quadro mais preparado de Sergipe. Muitos iam para Brasília passear, e Mendonça ia para estudar. Ele é muito preparado. É até esquisito porque é um homem de pouca relação social. Ele gosta das coisas simples e tem uma virtude rara na política de hoje: é decente. Mendonça não fez patrimônio na política. Ele se separou e mora com a irmã até vender o apartamento para dividir com a ex-mulher. Tem um carro velho. Ele teve todas as chances (de ficar rico com a política) porque era genro de João Alves (na época governador), comandou os contratos na administração (Mendonça foi secretário de Administração). Podia ser um milionário hoje. Como eu conheço bem a política de Sergipe, resolvi aceitar o convite de Mendonça de ir para o PPS.

Então, Mendonça o motivou a se filiar ao PPS?

O PPS é um partido no qual, no plano nacional, eu tenho grandes amigos. Tem um ano e meio que Clóvis me convidava e eu dizia não. A ida de Mendonça me motivou porque era um projeto diferente. Eu fico impressionado com a inteligência de Mendonça e seu preparo intelectual. Eu sei em Sergipe quem é ladrão e quem não é. Mendonça não é. O PPS é um partido que tem Cristovam Buarque, Roberto Freire, um grande grupo de pessoas do bem. Começamos um processo de ampliação das coligações porque nenhum partido pode concorrer de forma isolada, porque a legislação privilegia os grandes partidos, o fundo partidário, fundo eleitoral. Tudo é feito com dificuldade porque, lamentavelmente, aprovaram esse fundo partidário de mais de R$ 1,7 bilhão. O que dói na minha alma é que o povo dorme em berço esplêndido. Para ser candidato não tem candidatura avulsa. Tem que se filiar a um partido. Eu resolvi abraçar esse projeto com Mendonça. Começamos a conversar com o DEM, que estava em um processo de conversa com o deputado Laércio Oliveira, que é meu amigo, e iria botar outra pessoa até a janela de março. Havia essa negociação - e com a aproximação nossa do DEM foi colocada essa situação: a senadora Maria do Carmo queria alguém com um perfil que tivesse a história do DEM e fez um convite a Mendonça para assumir o partido em sintonia com a Nacional. Maria que iria indicar. A gente sabia que, se o DEM saísse, iria para Jackson porque Laércio é seu aliado e a gente ia perder um espaço muito grande. Nesse momento que vive a família João Alves, o perfil mais adequado para defender o legado político de João Alves é o de Mendonça Prado. Tudo isso eu conversei pessoalmente com Roberto Freire - e ele disse que estávamos certos, que não se pode fazer política isolada. Mendonça estava indo para um partido que Nilson Lima foi o vice de João Alves, Clóvis Silveira era cria de João Alves, foi vice em sua chapa em 98. Quem quiser seja desonesto para negar isso. O processo natural, as circunstâncias levaram a tomar uma posição: Mendonça ser presidente do DEM, e a gente no PPS apoiando é um processo totalmente natural. Eu, em nenhum momento, disse que iria sair do partido. Espero que acalmado tudo isso o PPS reflita e apoie Mendonça Prado.

E se o PPS não apoiar?

Se o PPS não apoiar o DEM, eu vou acompanhar Mendonça por outro partido. Vou continuar pré-candidato ao Senado. Quero continuar sendo pelo PPS, mas tem declarações do presidente (Clóvis Silveira) que o partido não terá candidatura majoritária. Se essa for a decisão do partido, vou ter que sair para acompanhar Mendonça. Eu não quero estar conflitando os partidos. Eu conversei com Roberto Freire e ele disse que conversaria com Clóvis. Se ele não convencer Clóvis, eu vou tomar a posição de acompanhar Mendonça. Estou sendo muito honesto.

E se Roberto Freire o convidar para assumir o PPS em Sergipe?

Eu não tenho interesse nenhum em comandar o partido. Eu já fui presidente do PDT e disse que nunca mais na minha vida queria comandar um partido e nem quero indicar ninguém. Clóvis tem essa vocação de trabalhar partido político. Eu não quero me envolver com fundo partidário, não quero aborrecimento para minha vida. Meu projeto é encontrar caminhos para tirar Sergipe do caos que nós vivemos com educação, saúde e segurança pública destruídas. É um estado ‘alagoanizado’. Alagoas hoje é um estado crescente e nos ‘alagoanizamos’.

Mas o pré-candidato João Fontes tem consciência que terá uma missão difícil, se levarmos em conta que pode precisar enfrentar os senadores Valadares e Eduardo Amorim e o governador Jackson Barreto nas urnas, não?

Em 2002, quando entrei na disputa para ser deputado federal, era a mesma coisa. Era uma vaga de um, outra vaga de outro, Marcelo Déda apoiava Samarone... Ninguém dizia que eu ganhava e eu fui o mais votado. Eu acredito naquilo que eu abraço. Há um cansaço da população com esses mesmos personagens da política. Sergipe, historicamente, já mostrou que sempre foi um estado libertário.

João Fontes e Mendonça Prado têm ciência que quem chegar, tanto ao governo quanto ao Senado, terá uma responsabilidade gigantesca, sobretudo pela situação de Sergipe?  

O Estado, hoje, vive de empréstimo. Em 2007, Nilson Lima, que era o secretário da Fazenda de Déda, foi à Assembleia e mostrou em caixa R$ 1,3 bilhão. Onde está esse dinheiro? Hoje, Sergipe é um estado devedor, que passou a viver de empréstimo. O próximo governador tem que fazer uma limpeza grande para extirpar um tumor cancerígeno da política que privilegia os amigos, os cargos comissionados, várias secretarias. Ou se prioriza a gestão competente ou Sergipe não sai desse caos nunca. A gente vive numa vaca esquelética. Mas não tenho dúvida que estamos falando do melhor pré-candidato para resolver esses problemas do estado. Estamos vivendo num país que é uma República Federativa. Têm os estados que estão arrumados, saneados, mas Sergipe é um caos. O governador Rui Costa do PT, na Bahia, é muito competente. Em Alagoas, Renan Filho é um grande governador. O Paulo Câmara, em Pernambuco, é a mesma coisa. Paulo Coutinho, na Paraíba, a mesma coisa. Nós temos um problema localizado no Rio Grande do Norte de corrupção. O Ceará é um estado pujante. O Piauí a mesma coisa. Somos um ponto fora da curva porque nos outros estados e capitais está tudo bem.

Nos bastidores, fala-se que o governador Jackson Barreto não diz publicamente, mas herdou um governo problemático, quebrado do saudoso Marcelo Déda. João Fontes já ouviu este tipo de comentário?

Eu já ouvi do próprio governador. Em janeiro de 2016, ele me chamou no Palácio porque queria me ouvir em relação aos problemas Estado. Ele desabafou. Disse-me que não podia negar que sabia, desde quando era candidato, que o Estado estava quebrado - e foi candidato empurrado por vários amigos. Eu disse a Jackson que ele não gosta do Executivo. Jackson não é gestor. Ele foi um caos na Prefeitura de Aracaju e no Governo do Estado. Jackson não tem perfil para o Executivo. Ele não sabe cortar na carne e quer fazer um governo de amigos incompetentes. Caridade se faz com dinheiro do seu bolso. Dizia doutor Leandro que “político sem poder é como rolete chupado ou puta sem cama”.

Por falar em amigos, os amigos abandonaram o ex-governador João Alves?

Maquiavel dizia que os homens são mais afinados pelas coisas presentes. Quem tem o poder tem os falsos amigos perto. Pra governar é preciso contrariar, dizer não. O Estado tem que ser esse mediador de geração de políticas públicas para melhorar a vida dos mais pobres. A situação do Estado foi resolvida momentaneamente com essa fusão dos fundos de previdência, mas daqui a cinco anos o fundo de previdência criado por Déda não vai suportar um elefante que se montou em cima, onde 1.946 servidores aposentados recebem 30% da folha de pagamentos de Sergipe com super salários. O cara se aposenta como governador e parlamentar, conta os dois tempos e tem uma aposentadoria de R$ 80 mil. Não cabe mais. Ou chama a população para conversar e cortar isso ou não vai resolver. Vai ficar o povo sofrendo a vida toda.

Mas e João Alves? Adoeceu no poder?

João Alves sofre de uma apneia muito próxima do Alzheimer. Ele já vinha, há dois anos, sofrendo com isso. Ninguém pode negar a história de João Alves como grande idealizador. Nunca foi candidato no Legislativo, não nasceu pra isso. Gosta do Executivo e é responsável pelas principais obras em Sergipe. É muito triste a gente ver um João Alves com toda capacidade intelectual se encontrar com o estado de saúde dele. João Alves tem 90% hoje de problema de saúde sério. A gente deveria até preservar e ter caridade, misericórdia, amor. A gente precisa preservar a história de um homem que fez muito por Sergipe. Eu nunca fui aliado de João Alves. Lutei sempre no campo da esquerda, mas tenho uma visão muito clara e não posso negar que João Alves foi o governador que fez mais por Sergipe, foi o melhor prefeito de Aracaju, na primeira gestão, mas, lamentavelmente, vive nessa condição hoje. Eu sei que a administração dele, no final, foi muito ruim. Não foi o perfil de sua administração. Eu soube de uma pessoa muito próxima que foi muito rápida a doença dele. Ele já vinha dando demonstrações de esquecimento, mas foi muito rápido e cruel. Essa é uma doença nova. É uma apneia muito próxima do Alzheimer. Ninguém sabe precisar se foi medicação errada. Foi diagnosticado tardiamente. Houve um equívoco médico. Se, talvez, fosse detectado antes teria mais chance de retardar.

Deveriam ter preservado João Alves?

Sacrificá-lo foi uma coisa desumana. Eu já percebia que existia alguma coisa, mas não tinha essa proximidade. Os filhos não queriam que ele fosse candidato mais, mas os aduladores do poder não gostam de perder a mamata. Esses aduladores sumiram (depois da doença). A ave de rapina suga nos tempos bons e nos tempos ruins cai fora.

Como avalia a Operação Caça-Fantasma?

Eu sou apaixonado pelo trabalho do Ministério Público. Eu, como deputado federal, fui um dos que mais trabalharam pelo fortalecimento do Ministério Público. Eu quando era deputado, em 2003, José Dirceu queria reunir a bancada do PT para tirar os poderes do Ministério Público. Eu me rebelei contra. Veio o procurador-geral da República conversar comigo e mostrar o contra-cheque dele junto com Jobim. Jobim ganhava R$ 22 mil e ele R$ 8 mil. Eu fui relator do processo do deputado Barbieri, de São Paulo, para equiparar o salário do Ministério Público com o do Judiciário. Acho que é importante e venho denunciando essa questão de excesso de cargos comissionados, há 30 anos. Eu quando era presidente da Energipe tinha gente que ganhava sem trabalhar e eu tirei da folha de pagamento. Arranjei briga para todo lado. Na Funcaju a mesma coisa. É uma doença nos 5.850 municípios do Brasil. A gente precisa ter o cuidado para não ser seletivo. Tem que ver quantos funcionários tem na Prefeitura de Aracaju, no Governo do Estado, no Tribunal de Contas. Por que o presidente do Tribunal de Contas tem na presidência 96 cargos comissionados e 28 no gabinete, sem dar espaço para as pessoas que passaram no concurso? Na realidade, o Ministério Público precisa fazer uma operação. Isso é um escárnio. Não dá mais para gente assistir a isso. Muito embora, eu, particularmente como advogado, acho que a prisão da jornalista Ana Alves foi exageradamente desproporcional. Só quem não entende de direito ou quer fazer uma avaliação caolha vê assim. Eu não estou falando isso porque é Ana. O homem tem que ser justo. Maria foi escolhida para ser a mãe de Jesus e José era justo. Temos que ser justos diante de Deus. Quando a esposa de Déda foi denunciada nessa questão do helicóptero, eu fiz a defesa dela, como fiz de José Roberto do MST, como fiz quando Gilmar Carvalho foi preso injustamente. Ana Alves não era gestora, da relação que tem lá ela conhece quatro pessoas. Uma pessoa foi intimada e foi ao partido saber e ela disse que iria arranjar um advogado para acompanhar. Isso não é obstruir Justiça coisa nenhuma. Vivemos em um estado democrático de direito. O Império é a lei. A gente precisa ter cuidado para punir as pessoas certas. Quem recebeu sem trabalhar tem que devolver o dinheiro. Mas devemos ter cautela. Eu conheço o processo. Eu fui despachar com o juiz. Impossível se caracterizar obstrução de Justiça. Peculato, se ela não tinha função pública? Não tem nenhuma prova de indicação. Apenas uma pessoa apareceu para perguntar, e ela extrapolou dizendo que ia investigar a vida dos promotores. Fui muito mais nessa linha. Se eu sou presidente de um partido e aparece alguém e diz que recebeu uma intimação, eu digo que vou arrumar um advogado, não tem nada de anormal. Beleza, riqueza e santidade depois de apurado não se dá metade da metade. Não tem ninguém sem pecado. O Ministério Público é pedagógico. É bom fazer essas investigações. A sociedade é sábia e entendeu. Até pessoas que eram inimigas da família Alves colocaram a estranheza da prisão dela. Foi desproporcional. Não tem ninguém que afrontar a ordem pública, que represente ameaça. Qual a obstrução que tem da Justiça, se as investigações continuam? E é bom que continuem mesmo. O Ministério Público fez um grande trabalho para diminuir os cargos comissionados no Tribunal de Contas. Ganhou uma sentença judicial com um grande trabalho do doutor Bruno Melo junto com sua equipe. Eu participei desse processo porque eu era advogado dos concursados do Tribunal de Contas. A Justiça mandou diminuir os cargos comissionados que caracterizam 25% em relação aos cargos efetivos. Sergipe é o único estado no Brasil que tem maior número de cargos comissionados do que efetivo. Eles não cumpriram e recorreram da decisão.

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Joedson Telles é um jornalista sergipano formado pela Universidade Federal de Sergipe e especializado em política. Exerceu a função de repórter nos jornais Cinform, Correio de Sergipe e Jornal da Cidade. Fundou e edita, há nove anos, o site Universo Político e é colunista político do site F5 News.

E-mail: joedsontelles@gmail.com

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