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Vício em apostas online: psicólogo explica os riscos e como buscar ajuda
Pesquisa revela que 46% dos apostadores online no Brasil são jovens de até 29 anos
Cotidiano | Por Gabriel Ribeiro 09/09/2024 17h07


Os jogos de azar online, especialmente aqueles que prometem grandes ganhos rápidos, como o popular "jogo do tigrinho", têm atraído cada vez mais adeptos, especialmente entre os jovens. Mas, por trás da promessa de enriquecimento fácil, esconde-se um problema sério: o vício. Polêmicas envolvendo jogos de apostas online estão em alta, principalmente com a crescente popularidade entre adolescentes e a divulgação por influenciadores digitais. No entanto, além das questões legais e financeiras, o vício nesses jogos também acende um sinal de alerta sobre a saúde mental. 

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotivo revela que 46% dos brasileiros envolvidos em apostas esportivas online são jovens entre 19 e 29 anos. O estudo também mostra que um terço desses jovens está endividado ou com o nome negativado. Além disso, uma análise da consultoria Strategy indica que as apostas representam cerca de 1,4% do orçamento de famílias das classes D e E, que possuem menor poder aquisitivo.

Em um encontro virtual promovido pelo UOL, que contou com a participação de aproximadamente 60 pessoas de diferentes regiões do Brasil, foram compartilhadas histórias de jogadores que, devido ao vício, perderam contato com familiares, acumulam grandes dívidas e chegaram a considerar o suicídio.

O psicólogo Matheus Renery, que tem experiência em saúde pública, explica os impactos psicológicos e sociais que o vício em jogos de apostas pode causar, além de abordar os desafios no tratamento.

Segundo Matheus Renery, o impacto mais comum em pessoas que desenvolvem o vício em apostas online é uma sensação de falsa recompensa. "Quando a pessoa ganha uma aposta, ela experimenta uma mistura de sensações de adrenalina, prazer e êxtase, acreditando ter controle sobre o jogo, o que é uma falsa percepção, já que o resultado depende do acaso", afirma.

Ele diz ainda que essa percepção de recompensa se intensifica, levando a pessoa a tentar repetidamente reviver as sensações associadas à vitória, criando um ciclo vicioso.

Além disso, ele explica que o vício vai além dos ganhos ou perdas financeiras. “Uma pessoa viciada experimenta escassez financeira, o que pode colocá-la em situação de vulnerabilidade socioeconômica, fragilizando laços familiares e afetivos. Isso muitas vezes gera afastamento de amigos, familiares, e até divórcios”, ressalta. O psicólogo ainda alerta que a dificuldade de manter uma rede de apoio sólida agrava o problema, tornando o tratamento mais desafiador.

A facilidade de acesso a esses jogos também aumenta o risco de vício, especialmente entre adolescentes, cujo cérebro ainda está em desenvolvimento. "Os adolescentes são particularmente vulneráveis porque estão em um processo de descoberta. Eles tendem a agir de forma mais impulsiva e não avaliam as consequências com a mesma cautela que um adulto", destaca Renery.

Além disso, o fácil acesso aos jogos de apostas, como o popular "jogo do tigrinho", aumenta o potencial de vício. "Hoje em dia, com um celular, a pessoa tem o jogo na palma da mão, o que facilita muito a entrada nesse mundo", observa.

Os sinais de que alguém está desenvolvendo um vício em jogos online podem ser sutis no início, mas familiares e amigos devem ficar atentos. "O vício se caracteriza quando a prática começa a afetar negativamente a vida da pessoa. Um dos sinais mais evidentes é a dedicação excessiva de tempo e recursos financeiros aos jogos", alerta o psicólogo. Ele também menciona que, em muitos casos, uma parcela significativa da renda do indivíduo é direcionada para apostas, o que deve servir de sinal de alerta para buscar ajuda.

Sobre os efeitos do vício nos diferentes aspectos da vida, Renery enfatiza que o impacto não é apenas psicológico. "Em um mundo capitalista, precisamos de recursos financeiros para investir em nós mesmos e em nossas relações. Se o jogo afeta essa capacidade, ele também afeta o desempenho acadêmico, a vida profissional e os relacionamentos afetivos", explica. Sem recursos financeiros, a pessoa se vê incapaz de suprir necessidades básicas, o que gera tensão em suas relações pessoais e profissionais.

Comparando o vício em jogos de apostas com outros tipos de vício, como em substâncias químicas, Matheus Renery destaca que, embora ambos causem consequências sociais e psicológicas, o vício em substâncias químicas tem também um forte impacto biológico. "No caso das substâncias químicas, há uma deterioração física, como problemas pulmonares em quem fuma. Já no vício em jogos de apostas, as consequências são mais voltadas para a fragilização dos laços sociais e psicológicos", observa.

O tratamento do vício em jogos online, segundo o psicólogo, exige uma abordagem complexa, que varia conforme a gravidade do vício. Em alguns casos, a psicoterapia pode ser suficiente, mas em outros, pode ser necessário o acompanhamento psiquiátrico. "O tratamento eficaz é aquele que tem base científica, e muitas vezes inclui a reconstrução de uma rede de apoio, que pode ter sido fragilizada ao longo do processo de vício", explica Renery. Ele enfatiza que, para a pessoa superar o vício, é essencial que ela se mantenha firme no tratamento e conte com o apoio de profissionais e familiares.

Edição de texto: Monica Pinto
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