Dia da Família: conheça histórias que revelam a diversidade dos laços afetivos | F5 News - Sergipe Atualizado

União
Dia da Família: conheça histórias que revelam a diversidade dos laços afetivos
Intenção da data é valorizar os laços afetivos do núcleo familiar
Cotidiano | Por Daniel Soares 08/12/2023 16h56 - Atualizado em 09/12/2023 00h53


O que é família para você? Até a Constituição Federal de 1988, o conceito de núcleo familiar era um só: um homem, uma mulher e seus filhos. Mas isso só valia se o casal fosse casado legalmente, do contrário, não eram considerados de tal forma. 

A partir de 88, isso mudou e o pai e a mãe poderiam, sim, formar uma família, ainda que não houvesse uma união registrada de maneira legal. Hoje, em 2023, muita coisa avançou e o conceito de família está diferente. Ele é amplo, variado e moderno. 

Por isso, neste dia 8 de dezembro, quando se celebra o Dia Nacional da Família, reunimos histórias de pessoas que vivem experiências diversas.

Família é amor

Décadas atrás, uma união entre pessoas do mesmo sexo, ainda que consolidada, não era vista e compreendida como uma família. 

Até hoje, a Constituição Federal não incluiu esse tipo de união. Mas o que forma uma família de verdade não é o laço formado pelo amor? 

Um bom exemplo de duas pessoas que se juntaram através deste sentimento é a história da jornalista Camila Ramos e da psicóloga Marcela Carvalho.

Elas se conheceram em 2016, através de amizades em comum. Dois anos depois, decidiram tentar algo além da amizade. "Não desgrudamos mais", relembra Camila. 

Começaram a namorar depois de seis meses e decidiram morar juntas com um ano de relacionamento. Em setembro deste ano, após muitas conquistas, casaram-se no civil e no religioso. 

"Cada uma com seus traumas, suas dores, fomos ficando devagarzinho, ganhando confiança, vencendo medos e fortalecendo nosso amor. Somos duas geminianas, então a convivência sempre foi divertida, leve, cheia de amor e vontade de fazer dar certo, e como tem dado! Mas sempre existem as briguinhas normais de todo casal", afirma Camila. 

Marcela traz consigo uma história que fortalece a sua família atual. "Fui expulsa de casa aos 18 anos por conta da orientação sexual. Foi remontando o meu caminho que entendi a grande possibilidade de construir a nossa própria família. Hoje, entendo que onde não há amor, respeito, acolhimento e diálogo, não cabe a minha presença e que família vai além de laços sanguíneos", diz. 

E a psicóloga diz mais: "A visão de família surge quando olho para Camila. Além de enxergar o amor, eu sinto toda a força para enfrentar barreiras e preconceitos. O nosso amor é revolucionário e espero que a nossa família possa, cada vez mais, colorir o mundo", celebra. 

Quando questionadas se pretendem expandir a família, a resposta vem com o mesmo afeto. "Sim! Queremos muito! É um dos nossos maiores sonhos. Estamos planejando e construindo aos poucos. É incrível pensar que podemos ter um coração batendo fora de nós, carregando tudo o que o mundo precisa: amor. Nossas famílias existem e resistem todos os dias", assegura Marcela.

Filhos PET

E o que dizer de uma família com membros animais? Nos últimos anos, tornou-se comum se considerar "pai ou mãe de pet". Contudo, isso tem até mesmo lastro legal: é o conceito jurídico de família multiespécie, onde os tutores são vistos pela Justiça como os pais de seus bichinhos. 

A jornalista Ana Carolina Alves se encaixa neste conceito. Ela tem seus dois gatinhos, Alfonso e Atena, praticamente como filhos. Morando com sua mãe e irmã, Carol diz que todas têm, pelos felinos, o mesmo sentimento. 

"Eles são os amores da nossa vida, a gente faz de tudo por eles. Veterinário muitas vezes acaba sendo um custo maior do que médico, mas nós arcamos com o custo porque amamos eles", conta. 

Não poderia ser diferente. Somente uma "tutora-mãe" sabe a importância dos seus bichinhos. "Alfonso chegou num momento que eu tinha perdido meu avô, que morava conosco", lembra a jornalista. 

Em retribuição, a dedicação de uma vida. "São tecnicamente animais, mas a gente vive por eles. Toda a nossa lógica de vida é para não deixa-los sozinhos. É como se fossem bebês mesmo", garante.

Mãe, avó e bisavó

Se dizem que ser avó é "ser mãe duas vezes", quanto vale ser avó, bisavó e mãe ao mesmo tempo? Essa é a história da aposentada Maria Júlia Oliveira Santos, que tem uma família imensa (do tamanho do seu coração). 

Família que não é formada no modelo de uma mulher, um homem e alguns filhos; mas sim por ela, os netos e bisnetos que ela criou desde muito pequenos (foto principal).  

Alguns deles cresceram e já não moram mais com a avó. Outros, continuam sob a sombra das asas. "A casa tem que ficar cheia, só tem a alegria quando está cheia", garante. 

Filhos biológicos, ela teve três. Já os netos, são 11 - todos criados por ela. Somado a isso, três bisnetos, também sob responsabilidade de Dona Júlia.

Antes de se aposentar, foi professora em Tomar do Geru, concursada do Estado, onde lecionou para crianças do pré-escolar. Lá, desenvolveu seu dom de cuidar.

"Passei muitos anos trabalhando, era o tempo em que eram 120 alunos numa sala para duas professoras", recorda. 

Desse tempo, Dona Maria Júlia traz mais do que memórias. "Tenho oito afilhados em Tomar do Geru e sempre mantenho contato, pois adoro eles e não tem esse negócio de não ver, não", assevera. 

Casou-se uma única vez, separando-se há mais de 20 anos. Sozinha, dedicou todo o seu tempo e atenção para os netos, os amores da sua vida. 

Maria não cursou faculdade. Passou em um vestibular, porém, uma filha precisou deixar com ela os três netos na mesma época. O senso de cuidar dos seus falou mais alto. 

"Se eu fosse estudar, não teria como cuidar dos meninos. Faltaria dinheiro e eu ia deixar os bichinhos passarem fome?" questiona, sabendo que não precisa de uma resposta. Afinal, essa é uma atitude que uma mãe tomaria por sua família.

Reconhecimento perante a Lei 

Mas se existem moldes familiares tão diversos, a Lei os valida? A doutora Rita de Cássia Barros de Menezes, professora universitária de Direito de Família, explica que, à luz do direito, os modelos atuais podem ser reconhecidos, ainda que não estejam na Constituição. 

"Não existe na lei, mas existe o reconhecimento no Supremo Tribunal Federal (STF) e existem portarias no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que permitem a validação diretamente no cartório, desde que se preencham alguns requisitos", explica.

E os conceitos não se exintinguem, evoluindo dia após dia. Em seu mestrado, a professora abordou a possibilidade de reconhecimento da família pluriparental, ou multiparental, que é onde a pessoa pode ter duas mães ou dois pais registrados - um biológico e um afetivo. 

Apesar da evolução e aceitação cada vez maior desses modelos familiares modernos, ainda há muito o que se discutir. No entanto, uma coisa é certa: o que faz uma família se entender como tal, na verdade, é o amor que a une. 

"Entendo que o Estado tem que defender a família. Mas existem certas situações que são íntimas e inerentes aos sentimentos, e isso o Estado não pode intervir. Dessa forma não pode interpretar quem pode casar com quem ou ser pai de quem. Por que isso vai muito além", defende a professora Rita de Cássia. 

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