Armas de gel tem se tornado febre entre os jovens, mas trazem riscos de lesões
Projéteis podem causar sérios machucados nos olhos; SSP diz que tem acompanhado brincadeiras Cotidiano | Por Daniel Soares 12/12/2024 17h12 - Atualizado em 12/12/2024 17h12Uma cena que tem se tornado cada vez mais comum: dezenas de jovens reunidos para uma "guerra" utilizando armamentos de brinquedo que disparam munições de gel. A febre espalhou-se por vários estados e chegou a Sergipe. Vídeos publicados nas redes sociais mostram disputas entre bairros, onde as ruas da capital se tornam campos de batalhas, atraindo cada vez mais pessoas.
Para aqueles que querem entrar nessa moda, é fácil encontrar os armamentos - ou lançadores - disponíveis à venda. Na internet, são várias as opções de tamanhos e cores, com preços que vão de R$ 50 a quase R$ 500. Já as munições de gel - pequenas esferas que precisam ser colocadas na água antes de serem utilizadas - são vendidas em 5 mil unidades a partir de R$ 13 em sites.
Mas a brincadeira, que parece inofensiva à primeira vista, pode trazer sérios riscos à saúde, com possíveis lesões nos olhos provocadas pelos projéteis. Além disso, as aglomerações para as batalhas, simulando práticas violentas com confrontos armados, tem chamado a atenção dos órgãos de segurança pelas possíveis consequências sociais e legais.
Em alguns lugares, já se buscam formas de acabar com a brincadeira, principalmente pelos problemas que vêm ocorrendo. Nas cidades de Olinda e Recife, em Pernambuco, os brinquedos foram proibidos através de leis e decretos. A razão desta medida é o fato de que, em menos de duas semanas, 68 pessoas ficaram feridas pelos projéteis de gel durante essas brincadeiras.
Riscos e prevenção
A dra. Fernanda Maria Silveira Souto, oftalmologista especialista em retina e uveítes, alerta que o impacto causado pelas bolas de gel que são emitidas pela arma pode causar vários tipos de lesões oculares. Ela conta que há cerca de 10 dias atendeu um adolescente que, por sorte, foi atingido na região da sobrancelha, sem afetar o globo ocular. "Ele foi medicado e hoje está bem", conta. Mas o caso poderia ter sido pior, uma vez que a brincadeira pode ter sérias consequências.
"Na parte mais externa do olho, podem ocorrer sangramentos na conjuntiva e abrasões na córnea. Além disso, a força da pancada da bola pode causar um trauma contuso, com risco de hemorragias internas e de descolamento da retina. Em casos mais graves e extremos, pode haver perfuração ocular. Precisamos lembrar que os acidentes com essas bolas de gel podem ser muito graves e com potencial risco de perda irreversível da visão (cegueira)", explica a médica.
Apesar dos riscos, a oftalmologista diz que é possível adotar medidas de segurança para a brincadeira, evitando disparos na região da cabeça, sendo direcionado do pescoço para baixo. "Além disso, é ideal a utilização de óculos de proteção, que são diferentes dos óculos de grau comuns. Esses óculos de proteção são maiores e fechados nas laterais para conferir maior proteção", recomenda.
"É importante ressaltar que, em caso de qualquer trauma próximo aos olhos com essas armas, um oftalmologista seja consultado com a maior brevidade possível. Dessa forma, o diagnóstico completo será realizado e o melhor tratamento proposto", completa a médica.
Segurança de olho
Apesar de cada vez mais jovens estarem entrando nessa febre, ainda não há grandes quantidades de casos de acidentes provocados por esse brinquedo em Sergipe. A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou ao Portal F5 News que, no Hospital da Criança, não há registros de ocorrências causadas pelos lançadores. No Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) também não houve casos até o momento.
Além da Saúde, a Segurança Pública também tem acompanhado o crescimento dessas brincadeiras. A SSP, por meio de nota, alertou para os riscos e implicações legais envolvendo o uso de armas de gel que simulam práticas violentas, como invasões e confrontos armados. Embora apresentadas como formas de entretenimento, essas atividades carregam sérias consequências sociais e legais.
"Essas práticas promovem a banalização da violência, ao reproduzir comportamentos típicos de confrontos armados. Essa normalização pode ser especialmente prejudicial para jovens, incentivando uma mentalidade de confronto e dominação, em vez de valores construtivos como o respeito, a solidariedade e o estudo", posicionou-se a Secretaria, em nota enviada ao F5.
Já no âmbito legal, a SSP entende que essas atividades podem ser interpretadas como apologia ao crime, conforme previsto no artigo 287 do Código Penal, dependendo do contexto. Também há implicações relacionadas ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), especialmente quando menores são expostos a situações de risco.
Além disso, a simulação de confrontos armados em espaços públicos pode gerar pânico e configurar perturbação da ordem pública, acarretando responsabilidades criminais. É importante ressaltar que, em algumas circunstâncias, as armas de gel podem ser reguladas por legislações específicas que controlam réplicas de armas, o que exige cuidados adicionais no uso desses dispositivos.
Confira o vídeo: