O cantor Wando morreu aos 66 anos na manhã desta quarta-feira (8), em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, no Biocor Instituto, onde estava internado desde o dia 27 de janeiro. Segundo o cardiologista particular, João Carlos de Souza Dionísio, ele teve uma parada cardiorrespiratória às 8h.
Em nota, médicos e familiares informaram que, a partir das 5h40, houve um súbito agravamento do quadro de saúde. O óbito aconteceu na presença da mulher de Wando, Renata Costa Lana e Souza. O cardiologista particular do cantor disse que foram feitas manobras de ressuscitação, mas o paciente não resistiu. Segundo boletim médico divulgado na terça-feira (7), ele apresentava quadro estável e melhora progressiva, mas a recuperação ainda era considerada de alto risco.
No domingo (5), o cantor enviou um bilhete para os fãs. "Eu estou na oficina de Deus arrumando a turbina. Me aguardem!”. Ele lutava contra o entupimento das três artérias coronárias. O cantor chegou a ser submetido a duas cirurgias e havia tido um infarto agudo dentro do hospital.
Wando foi hospitalizado com quadro de angina de peito, e exames apontaram que as artérias do coração estavam entupidas por placas de gordura. Ele estava com 110 quilos no momento da internação, 30 a mais do que o recomendado, segundo o cardiologista particular.
O local e o horário do enterro ainda não estão definidos, segundo a produção do cantor no Rio de Janeiro.
Cantor romântico
Como letrista, Wando ficou célebre por composições de teor romântico e erótico. Sua marca registrada era a calcinha. Em depoimento disponível em seu site oficial, o próprio cantor conta como tudo teria começado, explicando que a peça foi uma espécie de fonte de inspiração para seu álbum “Tenda dos prazeres” (1990). “Uma calcinha de cabeça pra baixo, ela vira uma tenda, não é? Aí, coloquei uma calcinha na capa do disco, e essa coisa fez tanto sucesso, que até hoje eu não consigo tirar do show. Eu distribuo calcinhas e recebo, tenho uma coleção muito grande, de todas as formas, jeito, cores e tamanhos.”
No mesmo depoimento, Wando aborda outras estratégias que adotou ao longo da carreira: “Teve uma época em que eu mordia a maçã no palco, e continuo mordendo ainda, porque conta a história de como é que começou o pecado, não é?”. As alusões ao sexo prosseguiram, com distribuição de convites de motel – sempre durante apresentações ao vivo. “Teve uma época no Canecão, casa de shows do Rio de Janeiro (atualmente inativa) que a gente botou uma banheira no palco, eu botava uma mulher nua no palco. Eu sempre gostei desses negócios.”
Vanderley Alves dos Reis nasceu em 2 de outubro de 1945 – “num arraial chamado Bom Jardim em Minas Gerais Lá, ficava a fazenda que teria pertencido aos seus avós. Seu registro, no entanto, foi feito na cidade de Cajuri, no mesmo estado. Ele conta que, ainda criança, mudou-se para Juiz de Fora (MG), onde concluiu o antigo primário. Mais tarde, ele foi para Volta Redonda (RJ), “onde eu entreguei leite nas casas, vendi jornal, virei feirante, dirigi caminhão na estrada”. Na mesma época, passou a se interessar por música, tendo inicialmente se dedicado ao estudo do “violão clássico”.
“E aí eu descobri que não era legal o violão clássico para o que eu queria: eu queria tocar pras moças, né?”, afirma. “O violão clássico é bacana, mas elas as mulheres, acho que ficavam um pouquinho entediadas. Descobri que eu tinha que fazer umas canções de amor. Comecei a sentir que era legal, que a música socialmente com a parte feminina dava muito certo, me apaixonei por aquele negócio.”
Após deixar a profissão de feirante, Wando mudou-se para Congonhas (MG). Lá, começou a “viver de música”, como integrante de um conjunto chamado “Escaravelhos” – “escaravelho pra quem não sabe, é um besouro, a mesma coisa que Beatles”. Cinco anos mais tarde, decidiu tentar a sorte no “eixo Rio de Janeiro – São Paulo”. Frustrada a passagem pelo Rio, chegou a São Paulo, onde teve gravado seu primeiro sucesso, na voz de Jair Rodrigues. A composição, “O importante é ser fevereiro”, teria sido “uma música muito tocada no carnaval de 1974”, lembrou-se Wando.
“Quando as pessoas falam de brega, sempre se referem a uma coisa ruim. Então eu brigo por isso. Agora, eles até quiseram colocar o brega como uma coisa bacana, mas eu acho que é uma forma de pedir desculpa, e isso é mau. Se for ver, você tem que chamar o Chico Buarque de brega, a Maria Bethânia, o Caetano Veloso, o Gilberto Gil. Eles gravaram as músicas que a gente grava. Eles gravam melhor? Não. Isso foi uma coisa cruel que eles fizeram.”
Na entrevista, Wando também comentava a música “Emoções”, gravada em 1978, que ele dizia versar sobre a relação entre dois homens: “Fiz isso porque acho que o relacionamento masculino é uma coisa válida. Não por ter aderido, mas porque eu tenho amigos que vivem esse tipo de coisa”.
Recentemente, o nome de Wando vinha sendo lembrado graças ao documentário “Vou rifar meu coração”, de Ana Rieper, que vem frequentando o circuito dos principais festivais de cinema do país desde alguns meses atrás. Há pouco tempo, teve boa recepção na Mostra de Cinema de Tiradentes, encerrada no último dia 28. O filme trata justamente da música tida como “brega” e traz depoimentos de cantores como Amado Batista, Nelson Ned, Agnaldo Timóteo, Peninha, além de Wando e de ouvintes que contam suas histórias com obras do “gênero”.
Fonte: G1
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