Incels, Redpills e MGTOW: entenda como o ódio às mulheres se espalha na internet | F5 News - Sergipe Atualizado

Discurso de ódio
Incels, Redpills e MGTOW: entenda como o ódio às mulheres se espalha na internet
Especialistas explicam como enfrentar redes de misoginia em ambientes online
Brasil e Mundo | Por Ana Carolina Alves 13/05/2023 07h00


Você provavelmente nesses últimos meses se deparou com conteúdos que incentivam de alguma forma o ódio às mulheres. Muitas vezes, de forma sutil, mas sempre reforçando um comportamento agressivo. 

Isso não é por acaso. Essas pessoas fazem parte de grupos, que surgiram primeiramente em fóruns da internet até chegar aos podcasts, redes sociais e até cursos pagos.  

Eles são conhecidos como Incels, Redpill e MGTOW. 

O Incels são os "celibatários involuntários” que culpam as mulheres por não conseguirem se relacionar. Compartilham de ideias misóginas, de que as mulheres são infiéis, interesseiras e manipuladoras. Eles acreditam que não têm a aparência boa o suficiente para as mulheres, sentem-se rejeitados e pregam o ódio para se sentirem melhores. O incels perseguem principalmente as mulheres, mas sua ignorância maléfica volta-se a outros grupos ativos sexualmente. 

Por isso, qualquer pessoa está suscetível ao comportamento violento dos Incels. Estes, tendem a ter um comportamento extremista, relacionando-se a casos de assassinato, por exemplo.

O termo Redpill (pílula vermelha) tem inspiração no filme Matrix, onde existe uma pílula para a ilusão, a azul, em contraponto à vermelha, que traz a verdade. Neste caso, a 'verdade' pregada por esses grupos é de que as mulheres são as grandes vilãs da sociedade e o objetivo é reprimi-las e torná-las submissas.

MGTOW é uma sigla para "man going their own way", que significa “Homem seguindo seu próprio caminho”, em português. É uma ideologia que prega o que chamam de "masculinismo", que seria o contrário de feminismo, e busca um resgate da masculinidade, o que estimula um comportamento violento e predador do homem. 

Todos esses grupos não são tão novos assim e datam de fóruns do início dos anos 90 e 2000. São parecidos e pregam em comum o antifeminismo, ou seja, não acreditam na igualdade de direitos entre homens e mulheres. 

A doutora e mestre em Sociologia Juliana Almeida afirmou em entrevista ao F5 News existirem duas questões que precisam ser avaliadas neste contexto. O primeiro, é que a internet possibilita a todo mundo falar o que quiser. “Claro que nós temos leis, mas falando de internet, é tudo ainda muito lento", avalia. Isso enseja que todo tipo de discurso possa receber visibilidade, "para o bem ou para mal”. 

O segundo, explicou a doutora em Sociologia, é que o ciberespaço permite a criação de tribos, união de pessoas que pensam e agem da mesma forma. “Não existe barreira territorial, porque você pode a partir desses discursos de ódio pegar pessoas de vários lugares do mundo”, disse ao portal. 

Juliana avaliou que este é um dos potenciais problemas gerados pela rápida comunicação atual, que é possível buscar a Justiça, mas as reparações só são possíveis depois que o “estrago já está feito”, em suas palavras, já que é difícil e demorado para retirar certos conteúdos de circulação. Ou seja, uma vez compartilhados, esses conteúdos que espalham discursos de ódio contagiam pessoas que se identificam com eles. 

Violência

A psicóloga Isla Andrade alerta que esses grupos representam um retrocesso para a sociedade, pois perpetuam uma cultura que naturaliza a dominação masculina e uma submissão feminina, terreno fértil para a violência contra a mulher. 

“Os discursos empregados pelos denominados Red Pills nas redes têm como característica o ódio, a aversão e o desrespeito às mulheres, o que chamamos de misoginia. Esse tipo de fenômeno grupal, que possui também um forte caráter identitário entre seus participantes, é uma das maneiras pelas quais se atualiza a violência de gênero, tipo de violência que ocorre em virtude apenas de sermos mulheres. Nesse caso, agora também praticada no meio virtual e de forma massiva, tomando assim outras dimensões”, ressalta. 

Os grupos Incels, Redpills e MGTOW  passaram a ganhar cada vez mais destaque após repercussão de casos de violência na mídia.

Em 2014, Elliot Rodger - tido como um 'herói' por parte de Incels - compartilhou um manifesto onde afirmava que as mulheres não se sentiam atraídas por ele, por isso não conseguia ter relações sexuais, dessa forma, iria se vingar de toda a humanidade. Ele esfaqueou e matou três pessoas, depois saiu pelas ruas atirando com arma de fogo e matou outras três vítimas, em seguida cometendo suicídio. 

A advogada criminalista Vanessa Correia, especialista em atendimento a mulheres vítimas de violência, aponta que esse estímulo à prática de crimes na vida real se dá a partir do anonimato proporcionado por esse tipo de fórum. “Prepara-se todo um mundo de obscuridade, onde esse conteúdo é direcionado para um público de determinado perfil, manipulando os comportamentos, ao ponto de desequilibrar psicologicamente esses seguidores. Nesse contato são oferecidas 'a glória de herói' para aqueles que executarem o que é determinado”, afirma. 

Um caso brasileiro impulsionou o conhecimento sobre os Redpills no país. O autoproclamado coach Thiago Schutz viralizou na internet com seus vídeos onde compartilha dicas para o comportamento masculino. Ele possui uma página no instagram com mais 330 mil seguidores chamada “Manual RedPill Brasil” e já chegou a afirmar que “Uma mulher é vagabunda até que ela me prove o contrário”.

Em um dos vídeos que ganhou mais repercussão, ele contava que, em um encontro romântico onde bebia Campari, uma mulher ofereceu cerveja a ele como uma forma de testar sua autenticidade. Por causa disso ficou conhecido como “coach do Campari”. Mas após virar piada na internet, ameaçou a humorista Livia La Gatto, que ironizou seu tipo de conteúdo em vídeo. “Você tem 24 horas para retirar seu conteúdo sobre mim. Depois disso é processo ou bala. Você escolhe”, disse Thiago à humorista. 

A advogada criminalista Vanessa Correia tranquiliza quem repudia tais comportamentos, afirmando que cada vez mais as investigações estão se tornando avançadas, devido à aplicação da regulamentação do Marco Civil da Internet. Ela diz ainda que já se tornou efetiva a localização desses fóruns e a identificação dos participantes que se pautam pelo discurso de ódio.

Mas é crime? 

A especialista em atendimento a mulheres vítimas de violência  explica que, a depender do caso, ele pode ser enquadrado na lei 7.716/89, que trata dos crimes de racismo, homofobia e transfobia. 

“Misoginia são expressões e comportamentos que demonstram desprezo, repulsa, desrespeito ou ódio às mulheres”, estabelece. 

Vanessa Correia recomenda a quem for vítima desse tipo de comportamento que recolha provas - como áudios, prints de conversas pelo whatsapp ou qualquer outro meio - e procure uma profissional habilitada que faça um acompanhamento, de modo a garantir os direitos de quem foi alvo dessa agressão. 

Ela acrescenta que procurar delegacias especializadas também pode contribuir para a garantia de direitos.

Estagiária sob supervisão da jornalista Monica Pinto 

Edição de texto: Monica Pinto
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