‘Fique Comigo’: uma eletrizante minissérie cheia de reviravoltas
Trata-se de uma entre várias adaptações da Netflix a livros do aclamado escritor Harlan Coben Blogs e Colunas | Levando a Série 24/01/2022 17h20 - Atualizado em 24/01/2022 22h19‘Levando a Série’ está de volta e começa os trabalhos recomendando uma minissérie emocionante, cujos oito episódios foram devorados numa maratona de apenas duas noites - Fique Comigo (Stay Close). A história é baseada no romance homônimo lançado em 2012 pelo bem-sucedido escritor norte-americano Harlan Coben, que assina também a adaptação televisiva. Em 2018, o autor fechou contrato com a Netflix, pelo qual 14 de seus livros seriam transformados em séries ou filmes, ele atuando como produtor em todos os trabalhos.
Admito que não conhecia Harlan Coben e tampouco assisti a qualquer das adaptações com assinatura do escritor já disponíveis no catálogo da Netflix Brasil. Mas seguramente o farei, embalada por essa primeira experiência em Fique Comigo. A minissérie é instigante, muito bem conduzida, cativando o público desde o primeiro episódio. E mantém esse interesse ao gerar suspense crescente sobre mistérios que se entrelaçam.
No papel principal temos Megan Pierce, numa rotina doméstica harmoniosa junto ao companheiro, Dave Shaw (Daniel Francis), com quem já vive há 16 anos. Nesse período, se tornaram pais de Kayleigh (Bethany Antonia), Laura (Tallulah Byrne) e Jordan (Dylan Francis). A história tem início com Megan e Dave nos preparativos para oficializar a união pelo casamento – uma cerimônia acolhida com alegria antecipada no rol de amigos. Assim que pus os olhos sobre a mãe e futura esposa - o que já era na prática -, pensei com meus botões: “essa atriz, Cush Jumbo, fez algo de que gostei muito”. Nem foi preciso dessa vez recorrer ao Google, ela interpreta uma das mais admiráveis advogadas - Lucca Quinn – na ótima The Good Fight, já recomendada aqui. Megan foi namorada do fotógrafo Ray Levine (Richard Armitage), profissional cuja carreira já viu melhores dias e segundo lado no triângulo de protagonistas, que se completa com o detetive da polícia Michael Broome (James Nesbitt). Esses três personagens tiveram suas vidas conectadas por um elo de má índole: Stewart Green (Rod Hunt), enigmático e de paradeiro desconhecido.Quando um rapaz desaparece exatos 17 anos após o sumiço de Green, o policial Broome liga os pontos, sem acreditar em coincidência. A princípio, sua parceira, a detetive Erin Cartwright (Jo Joyner), acha que o colega está obcecado por um caso que não conseguiu elucidar há quase duas décadas e, agora, no presente, busca uma redenção só cobrada por ele próprio.
No elenco, constam ainda uma personagem muito marcante, Lorraine (Sarah Parish), dona de uma boate/casa de shows de mulheres em trajes mínimos, mas um tanto recatados diante do padrão nesse tipo de estabelecimento. E o advogado Harry Sutton (Eddie Izzard), que costuma auxiliar as moças da casa em eventuais questões jurídicas, um sujeito de bom coração, mas mergulhado num problemaço: o vício em heroína. Quanto ao enredo, impossível se estender em seus meandros sem entregar spoilers, tamanha a fartura de reviravoltas e de conexões que vão surgindo ao longo da história. Uma das sinopses da Netflix diz apenas: “O desaparecimento de uma série de pessoas faz com que Megan Pierce seja forçada a encarar os fantasmas de seu passado em uma perigosa investigação policial”. Está certa a plataforma, qualquer coisa além seria excesso.Pelo que pesquisei, os livros de Harlan Coben se passam nos Estados Unidos, geralmente em seu estado natal, Nova Jersey. Mas as histórias dele adaptadas para a telinha acontecem na Europa. Fique Comigo tem como cenário uma cidade inglesa fictícia e as gravações foram feitas predominantemente em Manchester e em poucas locações no noroeste da Inglaterra, país onde também são ambientadas “Safe” (Seguro) e “Não fale com estranhos” (The Stranger). “O Inocente”, outro livro de Coben que a Netflix transformou em minissérie, é uma produção espanhola. “Desaparecido para Sempre” (Gone for Good) tem assinatura francesa e “Silêncio na Floresta” (The Woods), polonesa.
Achei uma jogada de mestre. Primeiro, porque foge ao padrão estético norte-americano – algo salutar por si só. Segundo, porque a diversidade dos locais das histórias confere mérito à obra de Coben, ao atestar que suas criações literárias independem de perfil cultural, lidam com emoções universais. Em Fique Comigo, misturam-se amor, empatia, misericórdia, medo, vergonha, egoísmo, ódio e sede de vingança – enfim, a salada existencial comum à espécie humana, em variadas graduações no âmbito particular.
A direção de Daniel O'Hara e Lindy Heymann garante a dinâmica sedutora na trama, cujo desfecho é inesperado, atributo elementar a uma boa história policial. Porém, mais do que cumprir com sagacidade essa expectativa, o fim da minissérie suscita valiosas reflexões, para quem está disposto a fazê-las.A título de curiosidade, fui verificar se existe um monumento onde se desenrolam cenas importantes de Fique Comigo. Positivo. Batizada como “Dream” (Sonho), a obra do premiado escultor catalão Jaume Plensa tem 20 metros de altura e 500 toneladas de peso. Foi inaugurada em 2009, no local histórico de uma antiga mina de carvão no condado de Merseyside, Noroeste da Inglaterra. Ex-mineiros ajudaram o artista na execução de “Dream”, que é toda revestida de dolomita branca, num proposital contraste ao combustível fóssil extraído de lá.
Despeço-me com uma frase do glorioso Mário Quintana que se encaixa à perfeição no enredo de Fique Comigo: "O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente."Para maratonar
Fique Comigo (Stay Close) – minissérie de oito episódios, original Netflix
Monica Pinto é Jornalista, editora do portal F5News, mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Paraná e viciada em séries
E-mail: monica.pinto@f5news.com.br
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