Julgamento de casos de racismo no futebol não acompanha aumento de casos
Segundo STJD, seis casos de racismo foram julgados em 2022; Observatório aponta mais de 80 casos Blogs e Colunas | Esteves em Campo 26/01/2023 10h54Seis dos 19 casos julgados pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol (STJD) estão relacionados a racismo no ano de 2022.
O número representa, segundo o STJD, o dobro de julgamentos quando comparado ao ano de 2021. Apenas em 2022, foram aplicadas punições de R$ 335 mil em multas. Também houve a suspensão de 5 partidas e 370 dias aos clubes e infratores relacionados com as práticas.
Além das punições aplicadas, os clubes envolvidos na infração tiveram que fazer campanhas educativas antes e durante as partidas com mensagens dos principais jogadores do time combatendo atos discriminatórios previstos no artigo 243-G.
Além dos seis processos julgados por atos discriminatórios relacionados a racismo em 2022, o STJD também julgou 11 casos por cânticos homofóbicos e dois por preconceito sexual - não especificados pelo ógão.
Julgamentos não acompanha aumento de casos
Desde 2019 pesquiso sobre racismo no esporte, principalmente no que diz respeito à cobertura jornalística sobre o assunto. O que chama atenção nos números consolidados referentes ao ano de 2022 no que se refere aos julgamentos é que ele é imensamente inferior à quantidade de casos registrados no esporte no mesmo recorte temporal.
De acordo com dados ainda não consolidados do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, mais de 80 casos de racismo no futebol brasileiro foram contabilizados apenas em 2022. A organização anualmente publica o levantamento com dados sobre as discriminações no futebol e em outros esportes em seu site.
Ou seja, é possível afirmar que a quantidade de julgamentos e punições não é proporcional ao aumento de casos de racismo no futebol brasileiro.
Embora meu recorte de análise não tenha sido a observação das punições referentes aos casos - e sim a forma como o jornalismo esportivo abordou cada um deles -, em entrevista que fiz com Marcelo Carvalho, diretor do Observatório, ele destacou justamente a necessidade de aprofundar mais o debate. Investigar os desdobramentos, provocar punições e conscientizar sobre a importância de ações de combate ao racismo no futebol.
"Por que alguns casos não são julgados mesmo com relatos em súmula ou de jogadores que falam em entrevistas?"
Essa foi a pergunta feita pelo diretor em entrevista concedida ao GloboEsporte. Por quê? O que leva esse cenário? Já é fato que, quando acontece qualquer caso de preconceito no campo ou na arquibancada, o árbitro é obrigado a registrar a ocorrência na súmula do jogo. Uma cópia dela vai para o Ministério Público. Mas o que acaba impedindo o prosseguimento jurídico dos casos?
A provocação é válida, pois instiga a necessidade de pensarmos punições cada vez mais presentes e severas no ambiente esportivo. É avançar para além de dizer que “Racismo é crime”. As campanhas de conscientização, o envolvimento de entidades esportivas, de atores do esporte e até mesmo do jornalismo, já têm produzido nesse sentido. É preciso avançar.
Jornalista formado pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Pesquisador em jornalismo esportivo e racismo. Professor da primeira disciplina focada em Jornalismo Esportivo do Departamento de Comunicação Social da UFS. Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM-UFS) e membro da Rede Nordestina de Pesquisa em Mídia e Esporte (Reneme). Co-criador, produtor e comentarista do podcast 45 de Acréscimo, primeiro podcast jornalístico de futebol do estado de Sergipe. Repórter do portal F5 News.
Análises sobre futebol e outros esportes sem nunca deixar de lado a perspectiva social do mundo que os cerca. A coluna é sobre o campo de ação, não apenas dentro das quatro linhas. Seja para falar sobre o esporte (resultados, personagens, grandes jogos), seja para falar sobre a sociedade como todo. O esporte é uma importante lente para entender o mundo, você está disposto a estar em campo para perceber?
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