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Uma vacina contra a desinformação
Avanço de doenças transmissíveis se verifica por quase todo o mundo
Editorial | Por Monica Pinto 09/10/2019 19h30

“Melhor prevenir do que remediar”. Esse dito popular no Brasil encontra similaridade em vários países. Nos Estados Unidos, por exemplo, se diz better safe than sorry -  melhor seguro do que triste, em tradução literal -,  expressão usada para emitir a mesma mensagem de alerta, dentro dos variados contextos em que se apliquem. No entanto, lá como aqui, o mais eficiente instrumento para prevenir um rol de doenças transmissíveis – a vacina – entrou na berlinda. E isso aconteceu por uma mistura de temor, desconhecimento crédulo e gosto pelo pânico e pela leviandade das fake news. O critério científico, como se observa rotineiramente no mundo contemporâneo, fica fora dessa equação. Termina soterrado pela sucessão de disparates que se espalha via redes sociais, nutrida por um “ouvir dizer” sem qualquer compromisso com dados estatísticos. E históricos. 

Não surpreende que, neste 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tenha apontado a resistência à vacinação como uma das dez maiores ameaças à saúde global. Um relatório do Unicef – órgão da ONU para a infância – diz que 98% dos países registraram crescimento no número de casos de sarampo, de 2017 para 2018. O Brasil está em terceiro lugar nesse vergonhoso ranking, atrás apenas da Ucrânia, na liderança, e das Filipinas. 

Essa situação evoca um debate complexo, mas essencial: até que limite o direito privado pode se sobrepor ao direito coletivo? Na Itália, país cujo movimento antivacinação há três anos só perdia para o dos Estados Unidos, reagiu à irrisória cobertura vacinal de então. Aprovou em 2017 uma lei pela qual determina a imunização de crianças de zero a seis anos, com dez vacinas, para que possam frequentar as escolas. No ano passado, centenas delas foram excluídas das salas de aula, o que parece cruel, sem dúvida, mas atua com base no interesse coletivo. 

“Quando os pais não vacinam os filhos, eles colocam essas e outras crianças em risco, aquelas que ainda não têm idade para vacinar e também aquelas que estão aguardando a dose de reforço”, disse à revista Galileu o médico infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto de Infectologia de São Paulo. Ainda na reportagem de capa da publicação – sob o título “Epidemia de ignorância” -, ele ilustra, especificamente no âmbito da vacina contra febre amarela, que a cada 400 mil doses aplicadas, é registrada apenas uma reação adversa. Mas a maré contrária à imunização de modo geral dissemina supostos efeitos colaterais que incluem de diabetes a autismo –  nexo que carece de evidências científicas, algo muito fácil de verificar, desde que haja um mínimo esforço no sentido de priorizar a responsabilidade. 

Não se sustenta o debate sobre se vacinar ou não os próprios filhos se encaixa em uma questão de foro íntimo – portanto em tese fora da alçada do poder público. Embora ainda não existam números oficiais,  o avanço de doenças evitáveis no caso do Brasil seguramente contribui para sobrecarregar o já combalido SUS, de cujo atendimento dependem diariamente milhares de cidadãos, principalmente de baixa renda, não raro fazendo a diferença entre a vida e a morte de cada um deles.   

A desinformação propagada com roupagem de verdade absoluta – por ignorância ou má fé -, essa sim, parece ser uma doença cada vez mais difícil de combater.

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