O crescimento do comércio mundial em 2018
Blogs e Colunas | Saumíneo Nascimento 14/04/2018 06h27
Em recente comunicado à imprensa, a Organização Mundial do Comércio (OMC) informou que o crescimento do comércio mundial de mercadorias deve permanecer forte em 2018 e 2019, após ter registrado seu maior aumento em seis anos em 2017, porém a entidade internacional alerta que a expansão contínua depende de um crescimento econômico global robusto e de governos buscando políticas monetárias, fiscais e especialmente comerciais apropriadas, conforme análises de economistas da OMC.
De acordo com o comunicado, a OMC prevê crescimento do volume de comércio de mercadorias de 4,4% em 2018, medido pela média das exportações e importações, aproximando-se do aumento de 4,7% registrado em 2017. O crescimento deverá se moderar para 4,0% em 2019, abaixo da taxa média de 4,8 % desde 1990, mas ainda firmemente acima da média pós-crise de 3,0%. No entanto, há sinais de que a escalada das tensões comerciais pode já estar afetando a confiança das empresas e as decisões de investimento, o que poderia comprometer as perspectivas atuais.
O Diretor Geral da OMC, o diplomata brasileiro Roberto Azevêdo declarou que "o forte crescimento comercial que estamos vendo hoje será vital para a continuidade do crescimento econômico e recuperação e para apoiar a criação de empregos. No entanto, este importante progresso poderá ser rapidamente minado se os governos adotarem políticas comerciais restritivas, especialmente em um processo justo." Um ciclo de retaliação é a última coisa que a economia mundial precisa. Os problemas comerciais prementes enfrentados pelos membros da OMC são melhor enfrentados por meio de ação coletiva, é preciso que os governos que demonstrem contenção resolvam suas diferenças por meio de diálogo e engajamento sério."
Para a OMC, o crescimento do volume de comércio em 2017, o mais forte desde 2011, foi impulsionado principalmente por fatores cíclicos, particularmente aumento dos gastos com investimento e consumo. Olhando para a situação em termos de valor, as taxas de crescimento em dólares correntes em 2017 (10,7% para as exportações de mercadorias, 7,4% para as exportações de serviços comerciais) foram ainda mais fortes, refletindo tanto as quantidades crescentes quanto o aumento dos preços. O crescimento do volume de comércio de mercadorias em 2017 também pode ter sido inflacionado pela fragilidade do comércio nos dois anos anteriores, o que proporcionou uma base mais baixa para a expansão atual.
A organização entende que até recentemente, os riscos para a previsão pareciam ser mais equilibrados do que em qualquer momento desde a crise financeira. No entanto, à luz dos recentes desenvolvimentos da política comercial, eles devem agora ser considerados inclinados para baixo. O aumento do uso de medidas restritivas de política comercial e a incerteza que elas trazem para as empresas e os consumidores poderiam produzir ciclos de retaliação que pesariam muito sobre o comércio global e a produção. Um aperto monetário mais intenso por parte dos bancos centrais poderia desencadear flutuações nas taxas de câmbio e fluxos de capital que poderiam ser igualmente prejudiciais para os fluxos de comércio. Finalmente, pode-se contar com o agravamento das tensões geopolíticas para reduzir os fluxos de comércio, embora a magnitude de seu impacto seja imprevisível. A mudança tecnológica significa que os conflitos podem, cada vez mais, assumir a forma de ciberataques,
Um dado positivo é que há algum potencial positivo se as reformas estruturais e a política fiscal mais expansionista fizerem com que o crescimento econômico e o comércio acelerem no curto prazo. Os economistas da OMC julgam que o fato de que todas as regiões estarem experimentando ganhos no comércio e na produção ao mesmo tempo também pode tornar a recuperação mais auto-sustentável e aumentar a probabilidade de resultados positivos.
Nas análises econômicas sempre se trabalha na perspectiva de alto grau de incerteza associado a qualquer previsão sob as circunstâncias, dessa forma, segundo a OMC, é provável que o crescimento do comércio em 2018 caia dentro de um intervalo de 3,1% a 5,5%. No entanto, deve-se notar que tais estimativas dependem das previsões atuais do PIB. Isto porque uma maior escalada nas políticas restritivas ao comércio ou outros choques que afetam negativamente a atividade econômica global pode resultar em crescimento do comércio fora dessa faixa.
No comunicado da organização fica evidenciado que as suas previsões comerciais baseiam-se em estimativas consensuais do PIB global, que foram fortemente revistas nos últimos meses. A OMC estima que o PIB real atrelado às questões que envolvem as taxas de câmbio no mercado cresça 3,2% em 2018 (contra 2,8% em setembro) e 3,1% em 2019. Perspectivas mais otimistas refletem não apenas ganhos de investimento e emprego, mas também melhora a confiança dos empresários e consumidores, e isto é medido pelos negócios acompanhados na Organização de Cooperação do Desenvolvimento Econômico - OCDE que avalia indicadores de ciclo, embora estes possam ser minados pela incerteza do futuro. O valor final de 3,0% para o crescimento do PIB mundial em 2017 também foi mais forte do que a estimativa anterior de 2,8% em setembro/2017, o que explica o fato de que o crescimento real do comércio de mercadorias em 4,7% para o ano superou até avaliações otimistas, como de 3,6% em setembro/2017, com alta estimativa final de 3,9%.
Por fim, a OMC aponta que apesar da melhoria das perspectivas, alguns fatores estruturais que pesaram sobre o comércio nos últimos anos ainda estão presentes. Isso inclui o reequilíbrio da economia chinesa do investimento (que tem um conteúdo de importação muito alto) e para o consumo (que tem menor conteúdo de importação comparado ao investimento), bem como o ritmo reduzido da liberalização do comércio global nas últimas décadas. O reequilíbrio da China poderá reduzir ligeiramente as importações a curto prazo, mas deverá produzir um crescimento mais forte e sustentável a longo prazo, o que favoreceria mais comércio. Por outro lado, espera-se que a falta de maior liberalização substantiva produza crescimento comercial moderado tanto a curto quanto a longo prazo.
Além disso, conforme a OMC, historicamente, os volumes do comércio mundial de mercadorias cresceram cerca de 1,5 vezes mais rápido do que o PIB real mundial às taxas de câmbio do mercado. A relação entre o crescimento do comércio e o crescimento do PIB (referido como a "elasticidade do comércio em relação ao rendimento") subiu acima de 2,0 nos anos 90, mas voltou para 1,0 nos cinco anos que se seguiram à crise financeira (2011-2016). Essa medida de elasticidade se recuperou de 0,8 em 2016 para 1,5 em 2017, o que está próximo da média histórica. Espera-se que o crescimento comercial mais forte em relação ao crescimento do PIB continue pelo menos até 2018, salvo grandes choques econômicos.
É importante ressaltar que dados preliminares sugerem que o comércio teve um forte início em 2018. O indicador mais recente da OMC (fevereiro de 2018) apontou para o crescimento do comércio acima da tendência no primeiro trimestre, enquanto outros indicadores como pedidos de exportação e transporte de contêineres também sugestivo de uma recuperação em curso. Mercados de trabalho mais rígidos e aumentos modestos da inflação nas principais economias deixarão menos espaço para erros por parte dos formuladores de políticas, mas, na ausência de qualquer erro, o crescimento do comércio deve permanecer forte nos próximos dois anos.
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Saumíneo Nascimento é Economista, Mestre e Doutor em Geografia, tem Pós-Doutorado em Ciência da Propriedade Intelectual pela UFS, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, da Associação Brasileira de Relações Internacionais e da Academia Nacional de Economia.
E-mail: saumineon@gmail.com
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