Petista presidente da CUT explica porque se sentiu usado por Iran e Ana Lúcia | Joedson Telles | F5 News - Sergipe Atualizado

Petista presidente da CUT explica porque se sentiu usado por Iran e Ana Lúcia
Blogs e Colunas | Joedson Telles 30/06/2019 11h27 - Atualizado em 30/06/2019 11h56

Membro da corrente petista Articulação de Esquerda, o presidente da Central Única dos Trabalhadores em Sergipe (CUT/SE), Rubens Marques, o professor Dudu, afirma, nesta entrevista, que se sentiu usado pela ex-deputada estadual Ana Lúcia Menezes (PT) e pelo deputado estadual Iran Barbosa (PT) pelo fato de Iran ter se elegido pela Articulação de Esquerda e, posteriormente, deixado a corrente. “Se ele tivesse dito que iria sair da Articulação de Esquerda, a gente teria candidato. Não tenha dúvida. Eu não coloquei o nome para disputar como deputado estadual para não dividir - e foi o que a direção nacional orientou. É como se eleger pelo partido e depois sair. Eu também acho errado. O partido e a Tendência estão acima das pessoas”, diz Dudu, revelando que o clima estava tenso há muito tempo. “Isso começa lá pela eleição de governador, mas sair mesmo eu não acreditava. E achei até ruim. Por que se ele já tinha deliberação de sair não deveria ser o candidato da Articulação de Esquerda. Eu achei um equívoco porque o debate não vem de agora. Vem de uns dois anos”.

Qual o recado que essas manifestações mandam à sociedade?

Lutar é uma necessidade. Durante muito tempo, as pessoas tinham preconceito com quem lutava. Era taxado de baderneiro. Mas é bom lembrar que essas pessoas que foram acusadas de baderna evitaram no passado que a reforma da previdência fosse aprovada. Foram essas pessoas que colocaram o braço na seringa. É importante dizer ao povo sergipano que a luta não se terceiriza. É preciso que as pessoas lutem também. A única coisa que faz um político recuar é quando ele vê a massa, aquele cidadão que saiu de casa e foi à praça protestar. Aquele cidadão que não está vinculado a nenhum partido e a nenhum sindicato, esse assusta mais que o movimento sindical. É preciso conquistar corações e mentes, para que essas pessoas fiquem do nosso lado. Eu sei que não é fácil disputar com a Rede Globo, com a Record, com o SBT com a RedeTV, os grandes meios de comunicação, mas é possível. No Brasil inteiro estamos tendo contato com o povo nas portas das escolas, terminais de ônibus, na periferia, nas portas das igrejas. Esse trabalho também está feito em Sergipe. O papel do movimento sindical é um e o da sociedade é outro. Aqui em Sergipe, a situação está bastante complicada. O povo sergipano precisa dar o recado. Qualquer um pode fazer uma gravação do celular dar o recado que votou em deputado tal e em senador tal e espera que ele fique do lado do povo. Isso circula e todo mundo ouvirá.

A CUT é contra a uma reforma na previdência ou a esse modelo apresentado pelo Governo Federal?

Somos contra a reforma, independente do modelo. A gente orienta aos deputados que não façam emenda porque se fizerem estarão legitimando. Somos contra porque o governo escolheu o lado que ele acha que é o mais vulnerável para atacar. Existe uma dívida de R$ 450 bilhões. O governo não cobra, e se não cobra, não pode penalizar os trabalhadores. O governo não tem legitimidade para falar em reforma, se não cobrar os R$ 450 bilhões em dívida. Eu estou falando numa linguagem contábil de dívida consolidada que já tramitou e chegou ao seu final. Empresário que perdeu não pode mais recorrer. Cabe o governo executar, mandar o Poder Judiciário penhorar os bens e colocar para leilão Quando não faz isso, ele estimula a sonegação... Ou ninguém aqui em Sergipe se lembra de gente chorando porque não pagou IPTU, foi para a dívida ativa e depois a prefeitura executou a dívida e tomou uma geladeira, um sofá, uma televisão? Toma de gente pobre. Por que não faz isso com as grandes empresas e com os bancos que devem? Se não fizer isso eles não vão pagar. O outro não paga o tributo, além de aumentar o patrimônio ainda tem uma margem de manobra no preço. A esperança do sonegador é chegar às bancadas do Congresso Nacional e negociar o perdão da dívida. Vemos isso desde o empresário ao latifundiário. A bancada ruralista o que mais faz é dar o perdão da dívida. O governo erra ao não executar a dívida, e estimula ao empresário que paga a não pagar também. Ele tem o perdão integral ou tem o refinanciamento. O cara deve R$ 10 milhões e faz o refinanciamento para pagar R$ 500 mil por 20 anos. Sergipe é o maior exemplo disso. Tem empresário que já não paga e fica esperando o Refis. O pobre, se não paga um simples IPTU, tem o seu bem leiloado. A fiscalização está precária e ele vai sonegando, mas sabe que tem no Congresso Nacional uma bancada que defende sonegador. Cabe ao governo atual, e ao do PT também, essa questão da renúncia fiscal. O governo Dilma fez a chamada linha branca durante a crise. Eu acho que cada um no seu quadrado. O patrão tem que pagar. Eu tiro o imposto do produto, o cara vende, fica mais rico, não paga o imposto ao Estado e esse dinheiro vai para a política pública e o governo deixa de arrecadar. Só quem ganha com esse tipo de política de renúncia fiscal é a classe patronal. Quando o governo perde, perde o povo. Tem uma série de coisas que o governo poderia fazer e não faz, e se não faz não pode cobrar da classe trabalhadora. Por isso é bom que o povo entenda e reaja com muita força. Sergipe tem um grande exemplo de reação dos trabalhadores na rua. Temos feito muita coisa, mas insuficiente para barrar. Uma coisa que faltou foi expor o nome do deputado, o voto do deputado na rede social, porque, se a televisão não mostrar, a gente coloca cartaz, pirulito, banner...

Como o senhor avalia o vazamento de áudios envolvendo Moro e Dallagnol?

Isso aí não foi novidade nenhuma. A gente já sabia que parte do Poder Judiciário atuou fortemente para Lula não ser candidato. É muito claro. Se Lula fosse candidato ganharia eleição e não teria reforma da previdência. É bom lembrar que Lula fez a reforma, só que ele fez de uma forma que não atacou os direitos como esse governo quer fazer. O próprio Temer fez uma mini-reforma. É demagogia dizer que o PT não fez. Esse governo não quer fazer reforma: quer acabar com a previdência. Essa gravação deixa muito claro aquilo que gente já sabia. Tinha uma articulação dos grandes empresários, dos banqueiros, do capital internacional, para não deixar Lula ser candidato, porque queriam fazer essa reforma para transferir dinheiro do povo para os bancos. Isso mostra que eles estavam articulados e isso desmoraliza. Ainda tem gente que sai à rua para defender Moro. Mas eu tenho certeza que quem sai para defender Moro e o governo não é porque está defendendo essa moral burguesa. Eles sabem que os caras são golpistas. Moro e Dallagnol são golpistas articulados com o capital internacional. Defendem porque é uma questão de classe. O Brasil vive uma luta de classe. Não importa o que façam. Eles vão estar do lado e pronto. Mas isso está diminuindo. O movimento estudantil da Universidade Federal de Sergipe viveu uma quadra diferente de todas. As ideias da juventude progressista sempre foram majoritárias na universidade. A partir de Bolsonaro, a juventude conservadora cresceu muito e se afirmou dizendo que são de direita, conservadores. Não foi escondido não. Foi bem aberto. Agora, parte daquela juventude que embarcou nessa barca furada já abandonou e participou das manifestações do dia 15 e do dia 30. A ficha caiu. Estão lá lutando agora para garantir a soberania em todos os aspectos.

As ações do governo Jair Bolsonaro têm dado tapa no rosto de quem defendeu seu nome nas ruas? É isso?

Exatamente. Uma parte ainda continua. A gente tem visto gente que sabemos que é desonesta, a pior espécie de cidadão brasileiro, estava lá defendendo a honestidade. O empresário que estava discursando no trio elétrico é um sonegador. A classe dominante é hipócrita. Como é que um desonesto vai cobrar honestidade? Aquele que era honesto de verdade caiu fora. Essa luta de classe está tão tensa que até a Seleção Brasileira de Futebol foi atingida. Eu não visto camisa da seleção. Ate dei a minha porque eu não quero ser confundido com coxinha. Eles se apropriaram da CBF. Jogo da seleção no Beira Rio, em Porto Alegre (RS), e o estádio estava pela metade. As pessoas não querem mais se identificar. O símbolo da seleção brasileira é Neymar, que é amigo do presidente. Aí aparece a figura de Neymar, da sonegação fiscal e agora envolvido nesse escândalo acusado de estupro. Até o futebol está sendo contaminado por essa onda de direita de varrer o Brasil, mas agora está mudando mais.

Isso é apenas o início ou ainda não assistimos ao pior desse governo?

Eu não acredito em uma mudança rápida. O governo é uma coisa, Bolsonaro é outra. As pessoas podem até dizer que Bolsonaro é fraco, que não sabe o que diz, e é verdade. Bolsonaro pode cair, mas o que muda? O problema não é Bolsonaro. O problema é o consórcio golpista. Diferentemente do que as pessoas falam, esse consórcio é muito forte. Tem o Poder Judiciário, não majoritariamente. Tem juiz sério. O Ministério Público tem um ou outro promotor contra, mas majoritariamente faz parte do consórcio. Os banqueiros, todos estão com esse consórcio. A classe empresarial, com raríssimas exceções, também está. A grande mídia está toda fechada com o golpe, e ainda tem os Estados Unidos. O consórcio é muito forte. Pode cair Bolsonaro que a política continua. Entra o Mourão e a política continua. Digamos que acontecesse de Mourão cair também. Vai ter uma nova disputa com esse consórcio. Só muda se a gente conquistar corações e mentes da massa. Por isso a preocupação de atrair o povo e estamos fazendo esse trabalho em todo Brasil. Derrotar Bolsonaro não é a mesma coisa que derrotar esse consórcio golpista. Essa política tende a ser longa, a não ser que a gente bote muita gente na rua. Com o povo na rua, ninguém segura. O tema da Venezuela é complexo. O povo foi tão bombardeado com as imagens, com as informações, todas elas ideológicas, que hoje defender a Venezuela é difícil. Mas, por que Maduro não caiu, apesar de toda a propaganda que foi feita? Porque lá teve disputa na rua. Não é verdade que não caiu só porque o Poder Judiciário lá não é vitalício e tem outra formação. Não foi só por conta do Exército, que tem outra formação lá. Não caiu porque teve gente na rua. Essa é a verdade. O que a televisão mostrava era isso. Se os golpistas botavam 100 mil pessoas nas ruas, os a favor do governo colocavam 300 mil. Lá teve disputa na rua. Por isso ele se manteve. O nível de consciência do venezuelano é melhor do que o do brasileiro. Não tenha dúvida disso. Aquilo é um exemplo. O país está estrangulado, mas o povo sabe o que está defendendo. Não é fácil reagir contra um grupo de países fortes, mas ele está lá. O Brasil precisa aprender a reagir com a Venezuela. Não estou dizendo que Maduro é um santo. Tem um site na Venezuela onde replicam minhas avaliações aqui no Brasil e eu tenho informação privilegiada. Eles colocam lá que eles enforcam e penduram nos viadutos. Eles tocam fogo nas pessoas vivas. Guaidó era um desses que fazia terror, que explodia prédio público, mas a imagem que passa é outra. Se o Brasil tivesse um pouco da organização das massas como tem a Venezuela, não teria havido golpe e nem estaríamos nessa situação de hoje.

O que houve que a Articulação de Esquerda sofreu as perdas do deputado estadual Iran Barbosa e da ex-parlamentar Ana Lúcia?

As pessoas ficam quando se sentem felizes. Divergência se supera na política. O que eu acho grave é que eles não têm divergência com a política nacional. A formulação política que orienta os estados é a formulação política da direção nacional. A conjuntura que a direção nacional da Articulação de Esquerda faz, eles não discordam. A fala deles continua indo na mesma linha. A divergência é local. Se fosse pela divergência local eu não estaria mais no PT e não estaria mais na Tendência. Eu já tinha saído há muito tempo. O que me orienta é a direção nacional e os estados têm representação. Não e por uma divergência local que eu vou deixar a Tendência. Eu acho um erro terem saído, até porque tanto no PT quanto na CUT existe um campo chamado majoritário, um grupão onde existem os quadros nacionais que dão orientação política. Mas na hora da disputa com a gente eles se juntam. Sair da Articulação de Esquerda vai para um grupo que, mais cedo ou mais tarde, vai estar junto com esse campo majoritário. Do campo majoritário em Sergipe fazem parte Francisco Gualberto, Conceição Vieira, Márcio Macedo, Rogério. Nós não somos. Dialogamos, temos divergências, mas consensumaos quando dá para consensuar, mas temos independência. Quem sai dessa Tendência, mais cedo ou mais tarde, vai estar no campo majoritário, querendo ou não. A não ser que deixe o partido. A direção nacional, historicamente, compõe com o campo majoritário. A não ser que eles não sigam a orientação nacional. Se não seguem não tem sentido continuar nessa tendência.

Mas é ruim, óbvio, a Articulação Política perder um deputado estadual, não?

Seria hipocrisia dizer que não foi ruim. Mas o que aprendemos na Tendência foi que o mandato é o meio não é o fim. A gente vive com ou sem mandato. A gente quer espaço para fazer o debate. Para tencionar pela esquerda. Por isso que eu fui candidato a governador. Para ter espaço na tribuna do PT para discutir pra o PT não fazer aliança com Belivaldo. Será que eu sou ingênuo achar que o PT iria aprovar meu nome para governador? O PT não ia aprovar, esse campo majoritário, mas não ia impedir que eu fizesse o debate. Era mais fácil para eu colocar meu nome como deputado. Teria chance. Mas eu botei para governador para ter o direito de a corrente se expressar. É um debate que a gente sabe que nem todo mundo topa. É melhor disputar aquele que ganha do que colocar um nome que não ganha. A Articulação de Esquerda vai continuar disputando, ganhando ou perdendo. O mandato é o meio, o espaço para discutir com a sociedade. A não ser que um dia a direção nacional mude o perfil das análises, e eu sei que não vai mudar. Até hoje, eu não tenho nenhuma crítica voltada à direção nacional do ponto de vista da articulação política.

Então a Articulação de Esquerda terá candidato próprio a deputado federal?

Ganhando ou perdendo. Não só a deputado estadual, como a senador e outros mandatos. Nossa vantagem na disputa é que ganhando ou perdendo, não vamos vender a alma.

O mandato de Iran ainda representa a Articulação de Esquerda?

Não. A gente pode, inclusive, apoiar as ações de Iran, como deputado, se a gente achar que deve. Se for algo coerente não tem nenhum problema. Depois que ele saiu já fizemos atividades conjuntas. A pauta é boa, da reforma, era um debate que era pra ter acontecido na CUT e fizemos um acordo e foi feito na Alese, com um resultado mito bom. Não agimos com o fígado. Mas com o cérebro. Se o que Iran estiver pautando for interessante não iremos ter nenhum problema em analisar, mas deixando claro que somos hoje de tendências diferentes. Mas, se a eleição fosse hoje, teríamos um candidato a deputado estadual, ganhando ou perdendo. É a cara da Articulação de Esquerda. Quem ficou vai continuar com esse perfil. É um prejuízo, mas a gente reconstrói.

Essa decisão partiu mais de Iran ou de Ana?

É difícil saber. Quem externou mais e tem externado essa posição mais claramente é a ex-deputada Ana Lúcia. Eu ainda não vi Iran externando de forma clara, mas ele subscreveu o documento.

Internamente, foi surpresa este rompimento?

Foi e não foi. O clima estava tão tenso, isso começa lá pela eleição de governador, mas sair mesmo eu não acreditava. E achei até ruim. Por que se ele já tinha deliberação de sair não deveria ser o candidato da Articulação de Esquerda. Eu achei um equívoco porque o debate não vem de agora. Vem de uns dois anos.

O senhor (a Articulação de Esquerda) se sentiu usado?

Claro. Porque se ele tivesse dito que iria sair da Articulação de Esquerda a gente teria candidato. Não tenha dúvida. Eu não coloquei o nome para disputar como deputado estadual para não dividir - e foi o que a direção nacional orientou. É como se eleger pelo partido e depois sair. Eu também acho errado. O partido e a Tendência estão acima das pessoas.

Se Iran era vereador por Aracaju não seria mais interessante para a Articulação de Esquerda apontar outro nome para disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa e ter dois representantes exercendo mandados?

Isso seria perfeito. Também foi tensão. Ao invés de ampliar, nós reduzimos. Crescemos igual a rabo de cavalo. A gente tinha dois mandatos e agora só tem um. Agora as disputas estão ficando mais difíceis.

Cogita colocar o nome do professor Joel ou do senhor para disputar a próxima eleição?

Joel eu acho um nome muito bom. Tem uma construção muito boa com o movimento sindical, uma história com o PT, o único partido que foi filiado até hoje, mas ele não quer fazer esse debate. Ele disse que esse debate atrapalha quando feito com antecedência e que podem aparecer outros nomes. Ele não topa discutir. Eu acho que já deveria estar se articulando, mas ele disse que só vai pensar na hipótese de abrir o debate quando estiver próximo. Acho um erro dele. Acho que deveria começar a fazer essa articulação porque pode ser tarde demais. Vejo-o como um quadro em potencial.

Se ele não topar, o senhor topa?

Depende da determinação da corrente. Se a corrente disser que é pra ir, eu vou, muito embora eu acho o nome dele muito melhor.

 

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